Não sou radical. Gosto de ver misturas culturais, penso que a humanidade só tem a ganhar e que cada cultura se enriquece ao adotar elementos de outra. Brasileira de verdade precisa entender isso, já que nossa cultura é uma colcha de retalhos formada a partir de várias outras.
Ainda assim, tem uma coisa que abomino: imitação. E imitação ignorante, então, me deixa irritadíssima. Acabo rindo, mas já vou dizendo: acho ridículo.
Um diálogo que ouvi outro dia me fez dar risadas. Fui a uma atração em Gramado. Chama-se Snowland. Para começar, por que não dar o nome de Terra da Neve? Bem, de toda forma, estávamos na fila, eu e Sérgio, quando ouço dois homens atrás de mim conversando. Um, pensativo e com voz de entendido, pergunta:
– Como será snow em inglês?
Eu gostaria muito de saber com que palavra da língua portuguesa ele confundiu snow. Já pensei e repensei e não descobri. Se você entender o raciocínio dele, por favor, escreva nos comentários, porque isso tem me incomodado há dias e dias. O outro, mais entendido, falou:
– Não sei. Land é neve – uma pausa e… É, o que será snow?
Consegui não rir.
E os nomes das lojas? Como gostam do ‘s! Só que poucos sabem que ele não é plural em inglês, é o possessivo! Então, surgem absurdos, como Colchõe’s do XYZ.
Bem, estou, até aqui, dando exemplos da língua falada. O que me irrita mesmo é quando começamos a copiar costumes idiotas. Para mim, o exemplo maior é a Black Friday, um dos costumes mais idiotas que conheço.
Black Friday é o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Em um dia, as famílias se reúnem, supostamente, para agradecer a Deus tudo que têm. Na madrugada do dia seguinte, vão para as filas das lojas, desesperadas para comprar, a preço de banana, um monte de coisas de que não precisam.
Isso mesmo. Já passei uma Black Friday nos Estados Unidos. Um frio de rachar, e as pessoas chegam às filas das melhores lojas antes das 4 da madrugada. Foi o que me contaram, não fui ver. Precisam comprar o quê, com tanta urgência, minha gente? Uma ressalva: os descontos são de verdade, e os preços são realmente muito baixos.
E aqui, os tolos começam a copiar essa sandice. Só que à moda brasileira, claro. Não fui fazer compras na Black Friday que passei nos Estados Unidos e nunca fui às pseudopromoções que realizam aqui. Os comerciantes aumentam os preços e depois vendem pelo preço original dizendo que são promoções da Black Friday. Só que muitos não sabem o que é black, nem o que é friday, Então já ouvi pérolas como: “Sábado e domingo tem Black Friday na loja XYZ!”. Sério, era propaganda na televisão, de uma rede de lojas bem grande! Pode rir, eu ri.
Se é para copiar costumes dos Estados Unidos, que tal começar pela dedicação ao trabalho? Ou pela ética, muito superior à nossa? (Ressalva: não sou muito fã do “way of life”, tenho muitas críticas e não gostaria de viver nos EUA, mas é preciso reconhecer que, em muitos aspectos, eles estão anos-luz à nossa frente.)
Mas não, a gente precisa copiar logo o que tem de ruim, e, ainda, piorando a coisa. Em vez de adotar o costume de fazer um jantar na última quinta-feira do mês de novembro para agradecer a Deus pelo que ele tem feito por nós, queremos ter um dia de desconto mentiroso nas lojas.
Anyway, na semana que vem tem Black Friday no sábado e no domingo. E, se bobear, a Black Friday vai continuar até o Natal. Aproveitem, ou, então, para usar a palavra adequada, enjoy!
Em tempo: há alguns anos, por iniciativa da Clarice, nossa família faz um delicioso jantar do Dia de Ação de Graças. Por algum motivo misterioso, nunca conseguimos fazer na quinta-feira, o dia certo. Sempre acaba sendo na sexta. Nossa Black Friday não é para consumo desenfreado e impensado. É para agradecer a Deus!