Eu nunca o vi. Sempre tive muita vontade de conhecê-lo. Por algum motivo inexplicável, nunca fui até lá. Não, não conheço o Rio que era Doce. Mas metade de minha pessoa nasceu lá, às margens dele, no tempo em que era doce.
Ouvi falar tanto dele! Vovó contava tantas histórias sobre o rio que passava sobre Resplendor, sobre as crianças que fugiam para dar uma nadadinha nele, para se refrescar do calor. Em minha imaginação, o Rio que era Doce era um oásis para o calor forte de Resplendor, a cidade onde minha mãe e meus tios nasceram.
Meu avô era pastor da Igreja Presbiteriana em Resplendor. Percorreu o Vale do Rio Doce a cavalo, plantando igrejas. Passava dias e dias fora de casa, viajando por lugares que hoje estão cobertos de lama, cuidando das pessoas, levando o amor de Jesus. Vovô faleceu por causa dessas viagens. Teve lesão na coluna vertebral por passar tanto tempo cavalgando, foi operado, houve complicações depois da cirurgia. Após muito sofrimento, faleceu. Ou seja, deu a vida pelo Vale do Rio Doce.
Minha metade que veio de lá se sente traída ao ver tudo coberto de lama. Hoje eu assisti a um pequeno vídeo gravado em Resplendor. São tantos os peixes mortos boiando que mal dá para ver a lama do rio. O vídeo mostra a ponte que não existia quando minha mãe morava lá. Era o sonho dos moradores da época.
Vovó falava tanto sobre os banhos que tomava para se aliviar do calor. O que estarão fazendo as Evangelinas de hoje? Elas não têm água! Não dá para tomar banho! Sei que há, ao longo do Vale do Rio que era Doce, muitas Evangelinas que, por um motivo ou outro, deixaram vidas mais confortáveis e hoje estão em situação extremamente difícil.
A impotência diante de tudo que está acontecendo me deixa angustiada. Oro por aquelas pessoas. Me alegro ao ver meu primo Gustavo ir até o local do desastre para conversar com os moradores, saber a realidade sem canais de mídia, fazer denúncias, apurar a verdade. É como se minha metade Ziller tentasse defender minha metade Moraes. Compro água mineral que vou levar ali no posto de recolhimento para enviar para lá. Uma gota no meio do lamaçal, mas é o que posso fazer. E sonho com o dia em que voltará a haver um Rio Doce. Vai levar tempo, mas, um dia, outras crianças poderão nadar, brincar, mergulhar, pescar. Sou esperançosa. Preciso ser.
E penso na Bíblia, o livro da verdade: do trono de Deus corre um rio, o Rio da Vida. Se o Rio Doce era tão maravilhoso, então o Rio da Vida é algo indescritível! Que o Rio da Vida corra por este mundo tão sofrido, judiado, maltratado, e traga a vida de verdade, traga a presença de Deus que, me perdoem os incrédulos, é a única coisa que pode resolver os problemas deste mundo tenebroso.
Será que ainda não deu para enxergar que tudo isso que está acontecendo é pura e simplesmente falta de Deus? Cobiça, ódio, desrespeito, desprezo ao outro, falta de amor: tudo se resume a três palavras – FALTA DE DEUS!
Deus é amor. Simples assim. Nosso mundo precisa só disso. De amor. Não amor ao dinheiro. Amor às pessoas. Não amor a si mesmo, amor aos outros. Pena que poucos entendam e aceitem essa solução tão simples: amor! E menos gente ainda entende que o verdeiro amor só se encontra em Deus, que se manifestou em Jesus. E isso é mais triste do que o lamaçal do Vale do Rio que um dia foi Doce.