SOBRINHAS – RIPILICA

Ela não gostava de mim. Não vinha no meu colo. Também, quando ela nasceu, eu estava com um problema nos ombros e não podia pegá-la no colo. Acho que por isso ela não se ligou a mim. Bem, isso mudou com o tempo.
Talvez Alice seja a criança mais alegre que eu conheço. Ela é feliz por natureza. Sabe ser geniosa, teimosa, mas eu aprendi a lidar com isso: sempre faço o que ela quer. Eis o segredo de ela sempre querer ficar comigo!
Ah, e é ciumenta. E põe ciúme nisso! Em julho, viajamos para a Califórnia. Marcos e Fefê não foram, então eu comprei vários presentinhos para eles. Ripilica foi ficando enciumada, e eu não me dava conta. Até que um dia ela falou:
– Você me abandonou! Agora só quer saber do Marcos e da Fefê.
Vai explicar para uma coisinha espevitada toda a situação. Melhor começar a comprar umas coisinhas pra ela também. Afinal, ela está acostumada com isso: tia Cláudia viaja com ela e dá presentes todos os dias.
Em uma de minhas viagens a Orlando, minha ocupação principal foi cuidar da Alice. Eu me diverti a valer. A gente chegava nos parques, dava tchau pro resto da turma e ia fazer o que ela queria. Como curti aquela viagem! Era uma criança de bem com a vida e uma tia pronta a fazer o que ela pedia. Combinação perfeita. Ganhei o apelido de Mary Poppins. Mas com uma ressalva: a babá famosa educou as crianças, eu estraguei a minha por completo. Quem tem que educar são os pais dela.
Aqui eu preciso elogiar minha Ripilica: é fácil fazer as vontades dela, porque ela é razoável. Não é uma criança que não tem limites. Recebe instrução em casa e sabe se comportar quando está longe dos pais. Claro que abusa de uma tia babona, mas até um grau aceitável.
Nós não frequentamos a mesma igreja. Uma vez, fui visitar a igreja dela. Assim que me viu, em vez da festa que eu esperava, ela me perguntou:
– Você aqui na minha igreja, sua doidinha? Eu te convidei?
Alice é decidida. Não pergunta nada, vai logo fazendo o que acha melhor fazer. Às vezes isso cria problemas, porque ela vai além do que deveria. Como, por exemplo, cortar o cabelo das lindas cachorrinhas dela (as de verdade) e, o pior, cortar fora todos os cachinhos da Fefê! Quando está aqui em casa, preciso ficar de olho, porque ela resolve ir nadar, pega o biquini na mala ou na mochila e só ouço o barulho dela pulando na água. Felizmente agora já sabe nadar, minha preocupação diminuiu.
Os pais dela têm uma operadora de turismo. Viajam muito, levando grupos para lugares diferentes, e isso me proporciona uma grande coisa: fico responsável por levar a Ripilica. É assim: quando eles vão ficar muito tempo fora, eu vou com ela, para ela não sentir tanto a falta deles. Mas ela sabe que está comigo. Dorme no meu quarto, passa o dia comigo. Toda folga que eles têm, lá vamos nós duas para ela matar a saudade.
Acho esse arranjo maravilhoso, não sei quanto a ela… Mas é uma pena, está crescendo, em pouco tempo não precisará mais da Mary Poppins…
A prova de que ela não gostava de mim: apesar de estar de costas, sabia que era eu e ficava resmungando até alguém “resgatá-la”. As outras sobrinhas estavam tentando me ajudar a tirar a foto com ela!!!!!
 
Nada melhor do que um dia após o outro…
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Um comentário sobre “SOBRINHAS – RIPILICA

  1. Acabei de ler o texto para a Alice, que ficou dando risadinhas. Comentário final: "Mary Poppins para sempre, ué. Depois vai cuidar da minha filha!"Só a Alice mesmo. Só pretende abrir mão da tia Cláudia quando for mãe!

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