NAQUELA MESA TÁ FALTANDO ELE – Homenagem a meu sogro "Salim"

Naquela mesa tá faltando ele, e a saudade dele tá doendo em mim…

Essa parte da música de Sérgio Bitencourt sempre me comoveu, desde que a ouvi, ainda criança. Ele começa falando sobre onde a pessoa, hoje ausente, costumava se sentar, e chega a esse refrão triste.
Hoje (bem, como já passou da meia-noite, ontem) seria aniversário do meu sogro. Deus o levou para o Céu no dia 6 de dezembro de 2004. Foi um susto. Numa segunda-feira, ele me abraçou e orou comigo pedindo a Deus para me consolar pela morte de uma criança preciosa, de cinco anos. Na segunda-feira seguinte, ele sofreu um AVC. E, na segunda-feira depois dessa, morreu. Ficamos todos atarantados.
Nos almoços de domingo, sentávamos sempre nos mesmos lugares, eu à direita dele e Sérgio à esquerda. Por isso a falta que ele faz à mesa. Mas não é só lá.
Conheci meu sogro quando ainda era criança. Ele era pastor de outra igreja metodista em Brasília, e sempre o via. Mas no púlpito, ou dirigindo reuniões. Achava que ele era muito bravo e sério. A convivência me mostrou um homem engraçado, tranquilo, sempre pronto a perdoar, disposto a amar qualquer pessoa que se dispusesse a se aproximar dele.
Carinhoso, tinha formas de tratamento especiais para cada um de nós. Sérgio era “meu barão”; Serginho, o primeiro neto, “meu primogênito”; Marta, “minha boneca”; eu, “minha joia”. Não lembro todos, mas esses já dão uma ideia do que digo.
O pastor bravo só existia na minha impressão de criança. O fato era que levava muito a sério sua função e não brincava em serviço. Mas, na família, a história era outra. Foram 26 anos de convivência, e percebi nele um processo de envelhecimento de causar inveja. Muitas e muitas vezes eu já disse que quero que o meu caminho seja parecido com o dele.
Vejo muitos idosos se tornarem intolerantes, irritadiços, implicantes, mas ele fez o contrário. Quanto mais o tempo passava, mais suave ele se tornava. Não transigia em seus princípios, mas sabia tratar com tolerância os que pensavam de outra forma. Adquiria cada vez mais a capacidade de rir de si mesmo, de ver graça na vida. Com isso, o tempo passava e os jovens se achegavam cada vez mais a ele, ao invés de o “deixarem de lado”.
 Há dois anos, exatamente no dia que seria aniversário dele, minha leitura bíblica resumiu esse meu desejo para a minha vida, está em Hebreus 13:7. Como não acredito em coincidências, vejo um recado de Deus, confirmando que tentar imitar a vida de meu sogro é o caminho certo para mim. O versículo diz:

Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram.
 Enquanto me esforço para seguir em direção ao meu objetivo, continuo cantando que na nossa mesa está faltando ele, e que a saudade dele dói muito em mim.