IUHUUU! RECEBI A HERANÇA!!!

É, recebi a herança. Todinha. Meu pai trabalhou muito, teve bons empregos. Primeiro, funcionário do Banco do Brasil. Aposentou-se em um bom cargo. Depois, trabalhou mais de 10 anos na EMBRAPA, organizando as licitações. Sem jamais receber propina, fique bem claro. O salário era bom. Aposentou-se de novo. Ainda tinha muita energia e saúde, não queria ficar parado. Lá foi ele trabalhar na Câmara Legislativa do DF, na elaboração de Lei Orgânica. Finalmente, se aposentou mesmo.

Basta uma análise rápida do perfil profissional dele para ver que ele ganhou bastante dinheiro. E deixou para nós uma herança de tamanho imensurável. Sem preço.

Recebemos o seguro de vida. Já gastamos. Deixou também o apartamento onde minha mãe mora e dois automóveis. Pronto.

Ah, mas a nossa herança ele distribuiu durante nossa vida. Como só os pais sábios conseguem fazer, vivemos juntos a herança. Cada centavo que ganhou durante a vida ele gastou conosco. No dia a dia. Estudamos em bons colégios, havia abundância em nossa casa. Não havia pessoa que o procurasse precisando de dinheiro que ele não ajudasse.

Óculos, aparelho nos dentes, lentes de contato, corte de cabelo, piscina do clube, roupas, carro – não era de luxo, mas ele fazia questão que sua família tivesse o máximo que seu salário podia pagar.

Ele sempre repetia que o primeiro salário da EMBRAPA serviu para pagar o bufê de meu casamento. Falava que os valores eram praticamente idênticos.

O maior investimento dele, contudo, foi nas viagens. Nunca deixamos de viajar nas férias. Ele dizia:

“A gente entra no carro e vai até gastar metade do dinheiro. Aí, começa a voltar.”

Era assim mesmo. Um mês passeando. Visitando parentes, conhecendo novos lugares, desbravando o Brasil. O dinheiro investido nessas aplicações rendeu muito mais do que se ele tivesse escolhido qualquer outro tipo de aplicação. As coisas que vivemos moldaram o caráter de cada um de nós, formaram nossa personalidade, criaram o vínculo extremamente forte que nos une.

Em 1988, incentivado pelo Henrique, ele começou a investir nas viagens internacionais. Tornou-se o investimento predileto dele, especialmente se a viagem fosse para a Disney ou a Califórnia. Quantas coisas aprendemos nessas viagens! Convivência, alegria, bom-humor. Papai fazia piada com praticamente tudo. E praticamente o tempo todo. Essa parte da herança nós aproveitamos a valer.

Talvez muitos não acreditem, mas garanto que é verdade: nossa família é capaz de passar um mês junta, em férias, sem ter uma briga sequer. Nem discussão. Essa é nossa herança.

A porção mais importante da herança, porém, é outra. O exemplo de amor a Deus e ao próximo, integridade, dedicação ao trabalho, idealismo, seriedade, e muitas, muitas outras qualidades que ele demonstrou durante toda sua vida. Eu nunca vi meu pai mentir. Nunca mesmo. Nem daquelas mentirinhas que a gente considera desculpáveis, tipo “fala que eu saí”, ou de exagerar ao contar uma história.

É, recebi a herança. Não foi ontem, nem hoje. Foi durante toda minha vida. Ele não guardou nada, distribuiu com generosidade de tudo que tinha, material ou não, enquanto permaneceu neste mundo. E pudemos desfrutar juntos de privilégios que poucos, muito poucos, têm. E sou extremamente grata a Deus, a meu pai e a minha mãe por ter sido assim.

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