O primeiro lugar tem vantagens e desvantagens. Na esfera familiar isso fica bem claro. O primeiro filho, ou filha, é aquele que insere os pais em um mundo totalmente novo. Ensina a eles que é possível amar outra pessoa mais do que a si mesmos. É o único que tem os pais só para si, ou , como no caso do primeiro em questão aqui, tem avós e tios também só para ele. Como desvantagem, pega pais que ainda não sabem ser pais e acabam cometendo erros que não cometem com os que vêm depois.
Claro que estou me referindo ao Serginho, meu primogênito, primeiro neto e sobrinho tanto na família Ziller quanto na Faria. Teve o privilégio de ser o centro das atenções durante quase 5 anos. Por isso, sempre foi muito amadurecido para sua idade e se expressava inúmeras vezes com a seriedade de um adulto.
Como uma vez em que viajou com meu pai, que foi pregar em algumas igrejas. Ao voltar me relatou:
– Na sexta-feira, pregamos na igreja xyz. No sábado de manhã, pregamos em abc – e assim por diante. Na cabecinha dele, tinha pregado junto com o avô.
Quando ele nasceu, tive depressão pós-parto, que não contei para ninguém. Passava as noites acordada, chorando, me sentindo culpada porque ele era um bebê tão bonzinho e perfeito e eu, ingrata, me sentia tão desanimada e triste. Levei um ano para superar. Felizmente isso não me impediu de curtir cada momento do desenvolvimento dele, que começou a falar muito cedo. Com cerca de um ano e meio ele contou para a família um programa que tínhamos feito:
– Aeroporto. Avião. Mãe dentro carro. Colo pai fora carro.
E assim foi, sempre falador. Na escola as professoras repetiam, em todas as reuniões:
– É ótimo aluno, só que fala demais.
Por causa da depressão, eu não queria ter outros filhos, mas Deus tinha planos melhores para nossa família. Engravidei sem querer quando ele tinha 4 anos. Meu bebê ia perder o trono. Comecei a pensar em como fazer para ele não sentir ciúme do irmão ou irmã. Havia um problema. Passei muito mal na gravidez. Antes, descia com Serginho todas as manhãs para tomar sol. Agora, não conseguia descer. Passávamos as manhãs deitados no sofá da sala, assistindo Balão Mágico. Com 4 meses de gestação minha pressão já começou a subir (tive pré-eclâmpsia na gravidez do Sér) e aí as manhãs no sofá passaram a ser recomendação do médico. Serginho jamais reclamou da mudança. Nunca se queixou de não descer. Quando se cansava da televisão, íamos para o quarto dele, eu me deitava na cama e ele ficava brincando com os milhões de brinquedos que tinha.
Eu estava com 5 meses de gravidez quando a novidade-bomba chegou, trazendo muita alegria e preocupação: havia 2 bebês na minha barriga! Fiquei radiante! Desde pequena tinha vontade de ter gêmeos. Mas isso faria meu filho perder ainda mais da atenção a que estava acostumado. Ele tirou de letra. Uniu-se aos adultos para cuidar das bebês, coisa que faz até hoje. Nunca demonstrou qualquer tipo de ciúme. O restante da gravidez foi terrível, com repouso completo, e as meninas foram extraídas da minha barriga com 8 meses devido à pré-eclâmpsia.
Desde o primeiro instante Serginho assumiu o papel de protetor delas, cuja primeira palavra não foi papai nem mamãe. Foi Dedé, para chamá-lo.
E cresceu assim. Cuidadoso e implicante com as irmãs. Bom aluno e bagunceiro ao mesmo tempo. Repetiu o primeiro ano do segundo grau e depois foi aprovado pelo PAS na UnB, para cursar Administração, um dos cursos mais concorridos. Continua falando muito. Casou-se com a Flávia certa. Tem um cachorrinho – o Bento. Vai muito bem em sua carreira. Enche a mim e ao Sérgio de orgulho.
Hoje eu completo 36 anos como mãe. Apesar do início complicado, concluo que me saí bem, porque meu primeiro filho está bem. Ama a Deus, curte a vida, trabalha, cuida de nós, continua a proteger as irmãs, enfim, é um homem bem-sucedido.
Parabéns, meu filho, por ser tão especial, apesar das falhas de sua mãe de primeira viagem.