Acho que ninguém mais faz serenata. Talvez eu esteja envelhecendo, mas sinto que os jovens perderam uma coisa muito boa quando o costume foi abandonado.
Não havia um acampamento sem serenata. Caprichada. Com solos, divisão de vozes. As meninas corriam agitadas de um lado para o outro no quarto escuro, de camisola, tentando enxergar os garotos. Era um tal de “shhhhhh, fica quieta” que ninguém aguentava. Claro que a gente tinha múltiplos acessos de riso de puro nervoso. Quando eles acabavam a “linda” apresentação, a gente acendia e apagava as luzes duas vezes, para eles saberem que tínhamos ouvido (como se não tivessem ouvido toda a correria e risadaria de antes).
Certa vez, o acampamento foi… dentro. Isso mesmo, no nosso prédio. Os meninos dormiam no andar de baixo e nós, no de cima. Com as portas trancadas, para não haver qualquer “interação” oculta. Não havia parede entre a sala que hoje é dos juvenis e a dos jovens, de modo que era um espaço bem amplo, então todas as meninas dormiram ali mesmo. Sei que havia outra igreja também, não tenho certeza se era o pessoal de Belo Horizonte, ou de outra igreja daqui de Brasília mesmo. O fato é que ficamos deitadas, conversando e rindo, à espera da infalível serenata. De repente, movimento lá embaixo. Todas corremos para a janela. Bernadette e Daso namoravam, e ela queria ver o amado cantando para ela. Mas tinha menina demais, tomaram conta de todo o espaço disponível. Empurra daqui, empurra dali, Bette conseguiu chegar à janela. Alguém cochichou: “Olha o Daso ali!”. Ela, empolgadíssima, foi olhar e… pow! uma cabeçada monumental no vidro da janela. Foi menina caindo pra todo lado de tanto rir. Depois que a tontura passou, a coitada conseguiu vislumbrar o futuro marido por alguns breves instantes.
Bem, mas a serenata mais inesquecível de todas foi feita pelo coral. Poucos dias antes do Natal, alguém fez uma lista com endereço de membros da igreja que não cantavam no coral. E o grupo saiu, fazendo serenata de Natal!!!! Não me lembro em que ano foi, mas tem muito tempo. Foi tão gostoso! Até os vizinhos abriam as janelas para ouvir os hinos lindos, e muitos perguntavam de onde era aquele grupo. Ah, e foi surpresa! Era bom ouvir alguns dizendo, espantados: “Nossa, é o coral da minha igreja!”. Claro que gostaram do presente inesperado de Natal.
Seja para rir ou levar a sério, sinto, mesmo, muita saudade das serenatas embaixo da janela…