13) A VIDA POR UMA PANELA

Todos admiram pessoas capazes de dar a vida por outra. É a expressão maior de amor. Muito mais admirável, então, alguém capaz de entregar a própria vida por uma panela! Vi isso acontecer, com estes olhinhos que olham para a tela no presente momento. Imagem gravada de forma inesquecível em minha memória.

Bem, vamos ao que me fez lembrar desse momento sublime.

Ontem, Luiz Tiveron postou uma foto de um acampamento em 1981. Muitos comentários, tentativas de descobrir onde foi (pelo pouco que se vê, era um lugar, digamos assim, pavorível. Pelo menos para mim, uma pessoa 101% urbana. Bem, isso me fez lembrar de outro lugar bem horroroso em que nossa mocidade acampou. Barro Preto. Nome sugestivo, não? Eu não dormia lá. Só passava o dia e depois… pra minha casinha!

O lugar era só uma casinha pequena, cercada de mato e barro por todos os lados, uma ladeira (de barro preto, claro) que levava a um rio. À margem do rio, um bambuzal. As meninas dormiam na casinha e os garotos dentro dos carros ou em barracas. Pensa no conforto. Um banheiro só para dez mil jovens.

Na cozinha, reinava, soberana, dona Cleuza. Assim sendo, apesar do lugar abaixo do precário, comíamos MUITO bem. Depois do almoço, os meninos tinham que lavar os panelões no rio.

Um dia, não sei por que motivo, estávamos só eu, Adelchi e Joab na beira do rio. Os dois lavavam as panelas e eu batia papo. Adelchi ficou bem na beirada, e Joab entrou um pouquinho mais. Tinha chovido, e a correnteza estava forte. Joab caiu e foi arrastado para o meio do rio, agarrado na panela. Entramos em pânico, mas Adelchi teve a presença de espírito de quebrar um bambu bem comprido e estender para o Joab pegar a ponta. Ele pegou, mas a panela, presa só por uma das mãos, encheu de água, ficou pesada e… foi embora na correnteza.

Joab não titubeou. Gritou:

– A panela! Minha mãe vai me matar!

Largou o bambu e pulou no rio atrás da panela. Lá se foi, carregado pela correnteza. Adelchi gritava, eu também.

– Esquece a panela, agarra o bambu!

Adelchi ia correndo pela margem, acompanhando o Joab. Graças a Deus, ele ficou preso em uns galhos, mas ainda tentava se soltar para pegar a maldita panela. Vendo a catástrofe se aproximar, pensei que devia buscar ajuda. A casinha tinha uma varanda, e o pessoal estava todo lá, naquele papo gostoso de depois do almoço.

Subi a ladeira correndo e escorregando no barro. Caí, me levantei, caí de novo, mas consegui completar a escalada. Cheguei esbaforida à varanda e gritei:

– Alguém aí sabe nadar?

Pensa na situação ridícula. Uma pessoa toda suja, sem fôlego, perguntando se alguém sabia nadar num lugar em que natação era completamente impossível. Ninguém respondeu.

– Gente, alguém sabe nadar?

Nada ainda.

– Alguém precisa fazer alguma coisa, o Joab está morrendo afogado!

Por que não falei isso primeiro? Tá, sou lerdinha. Mas ISSO motivou todo mundo. Começaram a falar todos ao mesmo tempo, corremos todos para o rio. Ele ainda estava agarrado nos galhos e ainda queria ir atrás da panela. Com os dez mil gritando para ele esquecer a porcaria da panela e agarrar o bambu, finalmente ele se convenceu.

Foi difícil ele sair do rio, a correnteza estava muito forte mesmo. Outros rapazes também pegaram bambus, deram as mãos, até que um alcançou o Joab, que já estava muito fraco pelo esforço de tentar pegar a panela.

Graças a Deus, de verdade, de coração – não é só um modo de dizer. Graças a Deus o Joab não se afogou naquele dia. Mas ficou, para sempre, o exemplo de uma pessoa capaz de doar a vida por uma simples panela (ou por medo da bronca da mãe…).

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