Pensamento inevitável: lá vêm o Charlie e a Lola de novo!
Nada disso. Vou escrever sobre meu primeiro e inesquecível animal de estimação. Minha infância foi desprovida de animais de estimação. Morávamos em apartamento e mamãe nunca permitiu. Apenas uma vez a regra foi quebrada.
Eu a encontrei abandonada na Escola Parque. Linda. Passei a tarde toda cuidando dela. Dei comida, mas ela não comeu. Na verdade, eu não sabia (como não sei até hoje) o que ela deveria comer. Não existia ração para ela.
Hoje me espanto ao me dar conta de que os professores permitiram que eu ficasse com ela o tempo todo. Mas, como já comentei em outro post, o ensino em Brasília, na década de 60, era muito especial. O fato foi que, no fim da tarde, fui com ela para casa.
Mamãe não se importou. Achou que ela não faria bagunça, não sujaria a casa. E não sujou. Eu estava apaixonada. Era meu primeiro animal de estimação! Arrumei um cantinho para ela, com tudo que achava que ela gostaria de ter: sombra, alimento e água. Espaço para se movimentar.
Toda hora eu ia vê-la. Parecia que ela se alegrava ao me ver, ou era eu que ficava tão feliz que achava que ela me reconhecia (fato impossível). Foi assim o dia todo. Na manhã seguinte, minha primeira providência ao acordar foi verificar se ela estava bem. Dei bom dia, ela se mexeu e eu fiquei radiante. O segundo dia dela em nossa casa foi semelhante ao primeiro. De vez em quando eu a visitava, e achava que estava tudo bem. Conversava um pouquinho, fazia carinho bem de leve para não a machucar.
Na segunda manhã, acordei, pulei da cama e fui visitar minha amiga. Ah, que tragédia! Estava mortinha da silva, deitada de lado no chão do vaso em que eu a colocara. Minha borboleta não quis comer as plantas do vaso em que a coloquei, ou simplesmente morreu de velha? Provavelmente, quando a peguei, na Escola Parque, a coitada já estava a caminho da sepultura, porque, em minha lentidão característica, eu jamais conseguia pegar uma borboleta esvoaçante. Mas eu não raciocinei naquela hora. Sofri muito com a morte da minha amiga! Chorei tanto que papai até escreveu uma poesia…
Até hoje, quando lembro desse fato, sinto um apertinho no coração. É a criança que ainda sou que recorda a tristeza da partida de uma grande amiga que ficou à minha disposição durante dois dias!
Depois disso, não quis mais saber de animais. Eles vivem muito pouco. Minha prima perdeu sua cachorrinha de 14 anos na semana passada. Se eu chorei por causa de uma borboleta de 2 dias, imagino o que ela sentiu, e fico pensando no Charlie e na Lola… É, tinha que acabar falando neles. Inevitável.