TRÊS MARIAS E NEW YORK

         Faço parte do seletíssimo grupo de pessoas que conhece as duas cidades.
         Já posso ouvir os protestos de todo mundo que viaja de Brasília a Belo Horizonte e passa pela estrada, à beira da metrópole mineira. Não sou assim. Conheço mesmo. Já entrei lá. Dediquei muitos minutos a conhecer cada metro quadrado do centro da cidade. Tão rápido quanto entrei, saí. Pode ser que haja quem goste de cidades precárias. Eu não.
         Mas Três Marias faz parte de minha vida desde sempre. Nas viagens de ida para BH, a parada no posto (que tinha o mapa da estrada desenhado na parede) dizia:
         – A maior parte ficou para trás. Você está quase lá.
         Era lugar de ganhar um pacotinho de drops Dulcora.
         Na volta, a parada dizia:
         – Olha o tanto que ainda falta. E não dá para saber quando você vai poder voltar a BH! Você vai daqui a Brasília com o sol na cara, ouvindo a estática do rádio enquanto seu pai tenta escutar o jogo do Galo.
         Ai, como sofria! Era lugar de ganhar um pacotinho de drops Dulcora de consolo.
         Nada disso tem a ver com o texto de hoje.
         Bem pequena, aprendi a ver as Três Marias no céu. Quer dizer, aprendi a achar quaisquer três estrelas em série e dizer que são as Três Marias. Tia Célia tentou me ensinar direitinho, mas eu não sou de decorar as constelações. O mesmo acontece com o Cruzeiro do Sul. Quaisquer cinco estrelas em formato de cruz me servem.
         Isso também não tem nada a ver com o texto de hoje.
         As três Marias em questão são minhas três primas Ângela, Adriana e ***. (Esta me proibiu de citar o nome dela sob pena de me processar por calúnia, uso indevido da imagem, apropriação indébita, e não sei mais quantas outras coisas. Apavorada, prefiro não arriscar, sendo que já corri um grande perigo ao escrever um post em que ela e eu fomos personagens principais: Pensa numa pessoa lerda (3).)
         Então vamos ao que interessa. Minhas três primas têm o nome composto, sendo o segundo Maria. Tio Amílcar dizia “minhas Marias”. Para falar sobre elas em grupo, a gente fala as três Marias, ou duas Marias, de acordo com a situação.
         Viemos para Brasília ainda pequenas. Longe de todas as outras primas, natural que nos uníssemos. Não digo que nos encontramos todos os dias, nem todas as semanas, mas estamos sempre juntas, nas horas melhores e nas piores da vida de cada uma de nós.
         Pensa em três pessoas engraçadas. Multiplica por 100 e você terá uma ideia aproximada de como são essas minhas primas. Falam alto, gostam de rir, sabem melhorar o humor da gente (ou, no caso de gente mal-humorada sempre, elas acabam com a pessoa – muito bem feito, ninguém deve ser sempre mal-humorado).
         No ano passado, lá foram as três Marias passar Natal em Londres. Eu avisei:
         – Vocês só se livraram de minha companhia nessa viagem porque é Natal. Se não fosse, eu ia me intrometer.
         Aconteceu. *** me ligou para saber notícias do Sérgio, assim que soube que ele estava com câncer. E me contou que as três iriam a NY no início de setembro. Comecei a coçar. Três Marias e NY!!!!!! Tudo de bom. A viagem seria exatamente no período em que o Sérgio estaria esperando a autorização do convênio para a cirurgia. E ele achou, graças a Deus, que eu estaria melhor durante esse período me distraindo em NY do que enfiada na minha cama.
         Sábio Sérgio, bondoso Sérgio, MARAVILHOSO Sérgio!
         Lá fomos nós. Flávia também se uniu ao grupo, e Renata já fazia parte dele. Confesso que não dou conta do ritmo das Marias. Bom, nem *** dá conta do ritmo das outras duas Marias. Então, eu não fiquei com elas o tempo todo, mas toda vez que a gente se encontrou foi uma delícia, como sempre.
         No aeroporto, em Brasília, Adriana comprou uma revista. Antes de embarcar, enfiou a dita, dobrada, na bolsa da *** e foi ao banheiro. ***, espertíssima como sempre, viu que algum desconhecido colocara uma revista por engano em sua bolsa e largou-a na poltrona da sala de embarque para o dono poder recuperá-la. Embarcamos todas. Troca de lugar, fala uma coisa, fala outra, Adriana guarda a bagagem de todo mundo porque ela é mais alta, monte de risadas. Quando a calma se instala na cabine, Adriana pergunta a *** cadê a revista.
         – Uai, que revista?
         – Vai ser lerda assim na China! Por que um desconhecido ia enfiar uma revista dobrada na sua bolsa?
         – Ah, eles falam para a gente não trazer nada que a gente não sabe de quem é.
         Bem, avião decolado, jantarzinho, Adriana recolhe a sobremesa de todas que não a quiseram (ela gosta de doce mais do que formiga e abelha). Avião tranquilo, um monte de gente dormindo. Adriana pede água à comissária, que traz com aquele ar de educação forçada. A água estava quente. Adriana pergunta se não tem gelada. Apesar de querer enforca-la, a comissária vai buscar. Ela se aproxima, e Adriana está contando um caso. Honrando sua ascendência italiana, com muitos gestos. Dá um tapa na bandeja, a mulher tenta de toda forma equilibrar, a gente cai na gargalhada, a mulher se molha, Adriana também. A comissária se afastou fumegando, e Adriana, morrendo de rir:
         – Tava gelada, porque caiu em mim e eu senti. Ela está toda molhada de água GELADA!!!!!!
         Conexão em Atlanta. Começaram o embarque. Adriana resolveu ir ao banheiro, eu e Ângela falamos que esperávamos. *** também, e ficou responsável pela bolsa da que foi ao banheiro. Chamaram nossa “zona” para embarcar, e *** resolveu adiantar o serviço e embarcar. Entrou na fila e comentou, toda orgulhosa, com a Flávia:
         – Elas falam que eu sou lerda, agora vão ver! Adriana pensa que eu ia esquecer a bolsa dela, mas eu trouxe!
         E entrou no avião.
         Adriana chegou e… cartão de embarque e passaporte estavam dentro da bolsa. Eu e Ângela já caímos na gargalhada. Ângela correu, passando na frente de todo mundo na fila, e foi falar com a comissária que estava à porta da aeronave que precisava chamar a irmã que tinha entrado com a bolsa da outra. A mulher chamou *** pelo alto-falante. E a Ângela:
         – Não adianta, ela não fala inglês – a mulher entregou o alto-falante e mandou que ela mesma chamasse.
         – *** compareça à entrada da aeronave!
         Você compareceu? Ela também não.
         Ângela se enfiou como pôde no avião e conseguiu fazer gestos para ***, pedindo a bolsa. Ela e as outras que já tinham embarcado faziam sinal positivo:
         – A bolsa está aqui, está tudo bem! Pode ficar tranquila.
         Enquanto isso, Adriana, guia de turismo escolada, já tinha conseguido outro cartão de embarque e nós duas estávamos embarcando. Pensa numa confusão. Todo mundo rindo ao mesmo tempo, *** com cara de Maria Madalena arrependida, segurando a bolsa com as duas mãos.
         Foi esse o tom de toda a viagem. Com direito a tombo da Adriana na Times Square e no Empire State. E espero que na próxima eu também participe.
         Tão bom ter essas primas sempre por perto! Quando rimos, rimos a valer. Na hora de chorar, choramos de verdade. Gostamos umas das outras. Sei que posso contar com elas, espero que elas saibam que podem contar comigo.
         Se a Três Marias da estrada deixa a dever a NY, as três Marias Ziller não deixam nada a dever a ninguém. IUHHHUUUUUUU VIVELAS!!!!!!

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