TEMPESTADE RECOLHIDA

Meu avô João Ziller foi professor. De latim, português e história. Tinha um costume interessante. Dava apelido a cada aluna, sempre de acordo com a personalidade delas. E, ao fazer a chamada, não usava os nomes, usava os apelidos.

Bem, no domingo que passamos em NY, eu, mamãe, papai e Cadeira resolvemos ir à igreja. Times Square Church, fundada por David Wilkerson, autor de A Cruz e o Punhal. A partir do trabalho dele, nasceu uma obra mundial de recuperação de drogados que, no Brasil, se chama Desafio Jovem. O livro foi muito importante em minha adolescência, começou a abrir meus horizontes para a atuação social da fé cristã. E eu sempre quis muito conhecer a igreja fundada por Wilkerson.

A manhã foi dedicada à adoção da Cadeira Moraes Ziller. Todos os trâmites legais resolvidos, Clarice foi cuidar das obrigações dela com o grupo e nós três começamos nossas aventuras na cidade. O plano inicial era ir ao culto das 11 da manhã. Não deu, porque a adoção levou mais tempo do que havíamos previsto. Então, passamos para o das 15 horas. Quando conseguimos chegar à Times Square, começou a chover. Bem na porta do Olive Garden, o restaurante predileto do papai nos Estados Unidos. Resolvemos nos abrigar da chuva (ainda faltavam algumas ruas para chegar à igreja), almoçar e ir ao culto das 18 horas. Com tantos cancelamentos, pode parecer que não fomos. Mas fomos, sim! E valeu a pena.

Mas a história não tem a ver com o culto e sim com o restaurante. Tínhamos 3 horas a “matar” antes do culto. Tudo que papai queria. Comer bem devagar, conversando, contando piada. E ali ficamos. Quando já estava na hora de sair, fui ao banheiro. Na volta, vi que os dois estavam conversando com o pessoal da mesa ao lado. Ouvindo que falávamos português, eles perguntaram onde morávamos. Eram de Belo Horizonte.

Engraçado, papai nunca faz isso, mas falou:

– Eu sou da família Ziller, vocês conhecem?

Eram uma senhora com duas filhas, genros e netos. Imediatamente ela:

– Claro, João Ziller foi o melhor professor que eu tive em toda a minha vida! Nunca esqueci dele.

Cadeira ainda não estava tão enturmada com a gente, então permaneceu insensível. Mas os outros seis pares de olhos ficaram cheios de lágrimas. A mulher elogiou tanto o vovô!!!!!! Já fazem mais de 50 anos que ele faleceu, e a permanência dele neste mundo ainda faz diferença na vida de uma mulher. Perguntamos se ela lembrava do apelido dela, e ela:

– Nunca esqueci! Eu era Tempestade!

Dias depois, voltamos a encontrar com ela (imagina: topar duas vezes naquela cidade imensa, com uma aluna do vovô!), que completou:

– Na verdade, meu apelido era Tempestade Recolhida.

Rimos todos. Há momentos na vida que não têm preço, como diz aquela propaganda. Nem todo o ouro do mundo pagaria a alegria que sentimos ao ver uma pessoa honrar nosso amado antepassado com tanto carinho.

Acho que esse encontro valeu por todas as dificuldades que enfrentamos em nossa viagem. Pelo menos, para mim valeu. Cada calinho nas mãos, causados pela malvada Cadeira, me faz lembrar das lágrimas de alegria e emoção que derramamos naquele restaurante.  Lembranças gostosas para o resto da vida…

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