Vovó Evangelina se alimentava bem. MUITO bem. E na hora que a fome batia, tinha que resolver o caso imediatamente. Em uma das inúmeras férias em Barra Velha, fomos ao mercado em Itajaí. Sim, viajávamos 40 km para ir ao mercado. O destino, na verdade, era a pizzaria, uma das melhores que conheço, que fica em Itajaí. Sim, viajávamos 40 km para comer pizza. Mas, para aproveitar a jornada, passamos no mercado. Vovó já chegou avisando que estava com fome. Eu falei e repeti que dali iríamos para a pizzaria, mas ela tinha que comer alguma coisa naquele momento exato. Não dava para esperar nem a gente comprar um pacote de biscoitos. Ele logo identificou um boteco na frente do mercado. Eu só teria entrado lá se fosse para salvar minha vida. Mas ela entrou e pediu uma coxinha. Você já viu coxinha de galinha com a massa vermelha? Eu vi. A que a vovó recebeu no balcão. Falei:
– Vovó, tem certeza de que vai comer isso?
– Eu preciso me alimentar agora.
Bem, como não sou do tipo de amarrar avó para evitar que ela faça uma besteira imensa, pedi para, pelo menos, tomar uma Coca para servir como detergente para aquele horror.
Comeu. E falou que estava gostosa. Duvido muito. Claro que ela não mentiu. Estava com fome e tudo que a gente come na hora da fome é gostoso. Mas a coxinha, que não deve ter sido feita com muito esmero, devia estar há uns três ou quatro dias, pelo menos, no mostruário. Bem, como o calor era imenso, alto verão, ela passou aquele tempo todo meio que no forno.
Fomos para a pizzaria, vovó comeu bem. À noite, claro, começou a passar mal. No dia seguinte, hospital. Soro. Injeção. Vovó prostrada na cama do “hospital” de Barra Velha. Ainda bem que melhorou logo, porque o lugar não tinha muitos recursos. Era uma clínica, na verdade.
Cuidamos dela. Foi um dia sem praia, mas isso não faz mal. Importante é que ela ficou bem. Durante todo o tempo, não vi ninguém reclamar. Fiquei com ela o tempo todo. Papai fazia as piadas dele, mamãe atendia a tudo de que ela precisava, Sérgio e os outros adultos cuidaram das crianças. Cada um fez sua parte, com amor e bom-humor. Passou. Como ninguém brigou, ninguém reclamou, a gente lembra com risadas do dia-em-que-a-vovó-comeu-a-pior-coxinha-do-mundo. Se não soubéssemos aceitar o inesperado, até hoje estaríamos bravos com ela por ter entrado naquele boteco.