DE QUEM É A CULPA?

Clarice e Rodrigo estavam viajando quando Tuca, uma das cachorrinhas deles, adoeceu. Amanda levou à veterinária (só de pensar nessa mulher meu sangue ferve), que fez tudo errado. Amanda passou dias cuidando da Tuca. A cadelinha só piorava. Uma noite, ela estava tão mal que, às 2 da madrugada, minha Driquinha saiu de carro, sozinha com sua cachorrinha, em busca de ajuda. Voltou para casa, sem conseguir. Era pouco depois do meio-dia do dia seguinte quando Clarice me ligou e me pediu para ir para a casa dela, porque a situação estava meio fora de controle. Tuca estava muito mal, e as meninas muito angustiadas e descontroladas. Saí de casa na mesma hora. Mas cheguei tarde. Encontrei minha amada sobrinha encolhida no canto do quarto, soluçando, dizendo que a culpa era dela. Foi difícil. Não sei se hoje ela já se convenceu de que a cachorrinha não morreu por culpa dela. Eu repeti não sei quantas mil vezes que ela não tinha culpa. Clarice e Rodrigo chamaram pelo Face Time e também insistiam na mesma tecla. Amanda ficava caladinha, mas eu a conheço bem o suficiente para saber que não estava convencida. Pelo menos consegui que parasse de chorar tanto, dei uma bronca na veterinária que teve o desplante de ir até a casa da Clarice para insinuar que talvez a medicação não tivesse sido dada corretamente. Ela não conhece a fúria da tia Cláudia. Levantei a voz e mandei calar a boca imediatamente. Amanda fez tudo que mandaram, e ainda mais. Não teve culpa. No entanto, quando eu ia embora, já à noite, perguntei se ela já sabia que não tinha culpa. Ela sorriu e fez que não com a cabeça. Saí arrasada.

O mesmo aconteceu quando meu pai faleceu. Todos que cuidavam dele se sentiram culpados. Não sei se já deixaram de sentir. Bem, se vocês estão me lendo, repito: ninguém teve culpa. Ele tinha 88 anos, tudo que era inesperado aconteceu nos dois anos de provação. Tudo que era imponderável. De ruptura de tendão a rompimento de fio de cobre, de infecção escondida a alergia a medicamentos, tudo coroado por uma fissura no osso, coisa simples que acabou sendo fatal. Nada disso estava sob o controle dos profissionais extremamente competentes e dedicados que cuidaram de meu paizinho. Ainda assim, cada um deles se sentiu culpado.

Ontem eu conversei com um primo que está carregando um fardo de culpa. Roubaram objetos de valor do filho dele, que estavam sob a responsabilidade do meu primo. E ele está se sentindo culpado. Eu falei:

– Olha aqui, a culpa é de quem roubou, não é sua!

A culpa nos consome. Nos sentimos culpados por tudo que foge ao nosso controle, por tudo que não sai exatamente da forma que achamos melhor, por tudo que causa algum tipo de dor a alguém que amamos.

Assisti um filme bem interessante, cujo título não me lembro, mas tem uma cena que não esqueço. Um casal está discutindo por causa de problemas com os filhos, e a esposa diz que a culpa é dela. O marido retruca:

– Para você, a vida é como uma pilha de culpas. Você vai distribuindo. Essas são minhas, essas são suas, essas são de fulano, aquelas de sicrano, e assim por diante. A vida não é assim!

Mães e pais são esmagados pelo peso da culpa. Tudo que dá errado na vida dos filhos eles assumem como culpa deles.

Sou uma pessoa extremamente espiritual. Enxergo a vida sempre sob o prisma do espírito. E creio na existência de um Deus bom, pronto a perdoar, que se encarnou em Jesus e morreu para que eu fosse livre de toda culpa, caso eu escolha crer nele e aceitá-lo como meu Senhor e Salvador. Creio, também, na existência de um adversário maligno, que dedica seu tempo a tentar nos destruir, e que usa, como um de seus meios mais ardilosos, o sentimento de culpa.

Esse inimigo nos acusa, mostra os erros, aponta o dedo.

Jesus não era assim, e não é, porque ele está vivo e não muda. Será o mesmo por toda a eternidade. Enquanto andou por este mundo, ele não acusava ninguém. Até chamava a atenção, quando necessário, mas não ficava nesse discurso de atribuir culpa. Um exemplo notável é o do corrupto Zaqueu. Jesus se convidou para jantar na casa dele. Diante de Jesus, Zaqueu desmoronou. Havia alguma coisa tão poderosa na presença de Jesus que ele não precisava falar nada. O homem já foi logo dizendo que ia devolver o que tinha roubado.

Viver livre de culpa é uma delícia. Perdoar a si mesmo é uma coisa maravilhosa, uma arte difícil de ser aprendida. Às vezes, é mais fácil perdoar outra pessoa do que perdoar a nós mesmos. Eu faço esse exercício constantemente. Sempre que ouço uma acusação, que eu SEI que não vem do Deus da minha vida, eu digo a mim mesma:

– É, errei, não sou perfeita, mas Jesus me perdoou e eu também me perdoo.

A veterinária é culpada pela morte da Tuca. Ela tem que buscar absolvição para essa culpa. Ninguém é culpado pela morte do meu pai. Meu primo não tem culpa no roubo, o ladrão tem e ele que se vire para se livrar dessa culpa. Eu e você precisamos internalizar essa realidade do perdão das nossas falhas, para vivermos, como Jesus disse, vida em abundância.

E a culpa não é minha!

PS: Dedico esse post a meu amado primo Zillim.

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OBA! BLACK FRIDAY NO SÁBADO!

Não sou radical. Gosto de ver misturas culturais, penso que a humanidade só tem a ganhar e que cada cultura se enriquece ao adotar elementos de outra. Brasileira de verdade precisa entender isso, já que nossa cultura é uma colcha de retalhos formada a partir de várias outras.

Ainda assim, tem uma coisa que abomino: imitação. E imitação ignorante, então, me deixa irritadíssima. Acabo rindo, mas já vou dizendo: acho ridículo.

Um diálogo que ouvi outro dia me fez dar risadas. Fui a uma atração em Gramado. Chama-se Snowland. Para começar, por que não dar o nome de Terra da Neve? Bem, de toda forma, estávamos na fila, eu e Sérgio, quando ouço dois homens atrás de mim conversando. Um, pensativo e com voz de entendido, pergunta:

– Como será snow em inglês?

Eu gostaria muito de saber com que palavra da língua portuguesa ele confundiu snow. Já pensei e repensei e não descobri. Se você entender o raciocínio dele, por favor, escreva nos comentários, porque isso tem me incomodado há dias e dias. O outro, mais entendido, falou:

– Não sei. Land é neve – uma pausa e… É, o que será snow?

Consegui não rir.

E os nomes das lojas? Como gostam do ‘s! Só que poucos sabem que ele não é plural em inglês, é o possessivo! Então, surgem absurdos, como Colchõe’s do XYZ.

Bem, estou, até aqui, dando exemplos da língua falada. O que me irrita mesmo é quando começamos a copiar costumes idiotas. Para mim, o exemplo maior é a Black Friday, um dos costumes mais idiotas que conheço.

Black Friday é o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos. Em um dia, as famílias se reúnem, supostamente, para agradecer a Deus tudo que têm. Na madrugada do dia seguinte, vão para as filas das lojas, desesperadas para comprar, a preço de banana, um monte de coisas de que não precisam.

Isso mesmo. Já passei uma Black Friday nos Estados Unidos. Um frio de rachar, e as pessoas chegam às filas das melhores lojas antes das 4 da madrugada. Foi o que me contaram, não fui ver. Precisam comprar o quê, com tanta urgência, minha gente? Uma ressalva: os descontos são de verdade, e os preços são realmente muito baixos.

E aqui, os tolos começam a copiar essa sandice. Só que à moda brasileira, claro. Não fui fazer compras na Black Friday que passei nos Estados Unidos e nunca fui às pseudopromoções que realizam aqui. Os comerciantes aumentam os preços e depois vendem pelo preço original dizendo que são promoções da Black Friday. Só que muitos não sabem o que é black, nem o que é friday, Então já ouvi pérolas como: “Sábado e domingo tem Black Friday na loja XYZ!”. Sério, era propaganda na televisão, de uma rede de lojas bem grande! Pode rir, eu ri.

Se é para copiar costumes dos Estados Unidos, que tal começar pela dedicação ao trabalho? Ou pela ética, muito superior à nossa? (Ressalva: não sou muito fã do “way of life”, tenho muitas críticas  e não gostaria de viver nos EUA, mas é preciso reconhecer que, em muitos aspectos, eles estão anos-luz à nossa frente.)

Mas não, a gente precisa copiar logo o que tem de ruim, e, ainda, piorando a coisa. Em vez de adotar o costume de fazer um jantar na última quinta-feira do mês de novembro para agradecer a Deus pelo que ele tem feito por nós, queremos ter um dia de desconto mentiroso nas lojas.

Anyway, na semana que vem tem Black Friday no sábado e no domingo. E, se bobear, a Black Friday vai continuar até o Natal. Aproveitem, ou, então, para usar a palavra adequada, enjoy!

Em tempo: há alguns anos, por iniciativa da Clarice, nossa família faz um delicioso jantar do Dia de Ação de Graças. Por algum motivo misterioso, nunca conseguimos fazer na quinta-feira, o dia certo. Sempre acaba sendo na sexta. Nossa Black Friday não é para consumo desenfreado e impensado. É para agradecer a Deus!