Raramente tenho pesadelos. Sérgio, ao contrário, tem muitos. Bem, pelo menos é o que ele diz. Por causa dos pesadelos dele, já levei soco, chute, ouvi um “SOCORRO” com a voz dele bem fininha e fraca e também já acordei com ele caindo da cama. Há quem questione o soco e o chute como resultantes de pesadelo. Prefiro acreditar que sejam.
Lembro-me bem de um pesadelo realmente assustador. Alguém me agarrava pelo pescoço e me puxava para um buraco escuro. Eu não conseguia gritar. Em minha mente, comecei a chamar Jesus, a mão teve que me soltar e acordei tremendo em minha cama. Foi horrível.
Na infância, tinha aquele clássico pesadelo de estar pelada na rua. Depois de um episódio digno de um post por si só, em que caminhei no Parque da Cidade de sutiã, sem camiseta, achando que estava de top, esse nunca mais me atormentou.
Os piores de que me lembram aconteciam quando eu tinha febre, ainda criança. Era comum eu adoecer, com dor de garganta. E, com a febre alta, lá vinham eles. Dois, especificamente, se repetiam alternadamente.
No primeiro, eu tinha que carregar uma carga enorme, muito acima de minhas forças. No instante seguinte, a carga ia encolhendo, até ficar tão pequena que eu não conseguia enxergar. E eu era obrigada a encontrar e pegar. Ai, que aflição!
O outro era mais assustador. Era O GORDO! Um homem gordo – com a mesma aparência em todos os pesadelos – aparecia e se fingia de bonzinho. Enganava meus pais, só eu sabia que ele era malvado, muito malvado. Eu tentava convencer meu pais, mas eles não acreditavam que o gordo era mau. Até que ele se revelava e tínhamos que escapar dele, que nos perseguia incansavelmente. Era um pavor!
Anos se passaram. As crises de amigdalite foram se espaçando. A febre alta acabou e o gordo ficou no esquecimento. Eu estava na universidade e compartilhava um carro com Henrique e mamãe, de modo que muitas vezes voltava de ônibus para casa no final da tarde.
Uma vez, já tinha anoitecido. Não me lembro o motivo de voltar já à noite, pois, quando ficava estudando na biblioteca, papai me buscava. O fato é que já estava escuro e eu, sentada no último banco do ônibus. Faltavam quatro quadras para chegar à nossa. Paramos no ponto. A entrada era bem ao lado do banco em que eu estava. De repente, PÂNICO! Ali estava o gordo! Dentro do ônibus! Era EXATAMENTE o gordo dos meus pesadelos. E ele olhou para mim!
Num primeiro momento, fiquei paralisada de pavor. Em seguida, veio o desespero para sair do ônibus. Fui empurrando as pessoas e saí pela primeira porta que encontrei. Lembro-me de ver o gordo partindo, olhando para mim. Será que estava olhando mesmo?
E eu me pergunto: será que ele era mesmo igual ao gordo dos meus pesadelos, ou eu vi um gordinho e me lembrei do malvado?
Como gosto de olhar a vida com humor, acho graça da minha experiência. Evidente que eu não sonhava com aquele homem. E fugi, apavorada, de um homem que, provavelmente, não tinha nada de malvado. Além disso, caminhei da 304 até a 308 por causa do medo irracional. De vez em quando olhava para trás, com medo de ver que o gordo tinha descido do ônibus e estava me seguindo. Assim que entrei em casa, fui logo contando:
– Mãe, eu vi O GORDO!
E rimos muito com a história toda. Bom, na nossa família em geral á assim, que nem nos filmes do Rin-Tin-Tin – todos acabam sempre rindo.