24) TÃÃÃÃÃÃÃO ROMÂNTICO!!!!!!!

Se você observar bem as fotos tiradas na capelinha de madeira, vai ver que há um zilhão de crianças, todas mais ou menos da mesma idade. Até 1970, chegaram muitas outras. Éramos um verdadeiro exército. E foi chegando a hora de namorar, noivar e casar.

A coisa ficou romântica a valer. Bem, melhor não comentar os casais que existiram e se desfizeram, porque pode haver ciúmes adormecidos que seriam despertados. Basta contar uma história para dar uma ideia. Há poucos anos, estávamos na casa de um dos Ventura Teixeira. Seu Balmes viu chegar uma mulher que ele não via tinha muito tempo. Perguntou para X, que é casada com Y:

– Aquela ali não é a Z do Y?

X não titubeou:

– Seu Balmes, quem é do Y sou eu!!!!!

E caímos na gargalhada.

Depois dos namora e termina, os casais que permaneceriam foram se formando, e começaram os casamentos. Era difícil conciliar as datas, às vezes, de tantos que eram.

E era cada cerimônia mais linda do que a outra. Quanta alegria, quanto amor!

Algumas foram especiais para mim. Bette e Daso. Fui madrinha, num vestido vermelho de matar. Papai falou que o tio da Bette que foi padrinho comigo ia ter um enfarte e morrer durante a cerimônia. Lenira e Dani, porque Serginho foi pajem junto com o Gério. Foram os pajens mais lindos de toda a história universal. Cristina e Joel, Flávia e Daniela foram as damas mais lindas de toda a história universal. Dos mais recentes, Lúcia e Dasinho. Minha terceira filhinha e o primeiro filho da quarta geração da IMAS. Por favor, que ninguém se magoe, mas estou citanto só alguns mais marcantes para mim.

Cada casal dava suas características pessoais à cerimônia. Todos os tipos de decoração, de música, de sermão, de roupas. As noivas sempre lindas, as madrinhas nem sempre. Depois do casamento da Sílvia e do Geba, mamãe comentou que naquele valeu a pena ver o desfile de padrinhos. Eram praticamente todos jovens e lindos.

Em dois a luz apagou. Engraçado, exatamente dos musicistas: Susana e Quico, e Cristina e Joel. Nada que atrapalhasse a beleza. No da Susana e do Quico, as velas até deram um toque especial de romantismo. A Cristina e o Joel se casaram de dia, então não fez muita diferença.

Houve um casamento em que o céu desabou. Acho que nunca choveu tanto em Brasília. Fui para a recepção com minha prima Ana, e precisamos correr para o banheiro para torcer os vestidos longos que haviam servido de pano de chão para enxugar as corredeiras…

Não lembro de nenhum acidente mais marcante. Ninguém caiu, nem desmaiou. Clarice era dama da Bette e do Daso e teve um princípio de piripaque, mas, atendida a tempo, não chegou a ter maiores problemas. Não me lembro de bolo estragado, nem de convidados brigando, nada de ruim.

Foram tempos de muito romantismo, sim. As festas e decorações não eram tão elaboradas quanto hoje (acho maravilhosas as atuais, e destaco a da Marcinha e Wellington!!!), muitas vezes parentes das noivas enfeitavam a igreja na tarde do grande dia. Muitas recepções não tinham garçom, nós mesmos ajudávamos a família a servir salgadinhos. Mas era sempre o melhor que a família dava conta de fazer.

Rev. Garrison realizou a maioria desses casamentos a que me refiro. Não esqueço de dois em especial. Em um, começou muito solene, casando Carlos Roberto e Beatriz. De repente, olhou para a igreja e falou:

– Vamos casar Beto e Bia, ê?

E prosseguiu, com os apelidos carinhosos que sempre usou para falar com os dois. No outro, foram dois filhos do seu Osvaldo que se casaram no mesmo dia (dois casais, claro) – Jaci com a esposa dele e Rute com o marido dela (sinto muito, mas esqueci os nomes…). Rev. Garrison chegou à igreja preocupadíssimo, e falou que tinha passado o dia todo ensaiando para não casar o Jaci com a Rute. Sucesso total. Em nenhum momento casou os irmãos um com o outro.

Graças a nosso Deus, é bem maior o número dos casamentos que deram certo do que os que acabaram em separação. Mesmo nesses, em vários ele concedeu uma segunda chance aos envolvidos.

E os filhos… segundo a Bíblia, “herança do Senhor”. São muitos. Espalhados por várias partes não só do Brasil, mas de todo o mundo. Não há como saber todas as ramificações daqueles casamentos de jovenzinhos de nossa igreja. Não há como identificar o impacto causado na sociedade por aqueles momentos que, em nossa inocência, pensávamos ser apenas a união de um rapaz e uma moça apaixonados.

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2) NO ESCURINHO

Nos primeiros anos de existência de Brasília, acabar a luz era fato cotidiano. Entre minhas lembranças mais gostosas está a de colorir à luz de velas. Tinha uma caixa de lápis daquelas grandes, com muitas cores, e livros de colorir dos Flintstones e dos Jetsons.

A luz acabava na cidade inteira, e na igreja também, claro. Claro, não, escuro. Todo mundo vivia preparado, com velas a postos. Não era problema nenhum. Ficou escuro, as velas automaticamente surgiam e tudo continuava tranquilo. Também não usávamos instrumentos elétricos, nem órgão elétrico, nem microfone e muito menos datashow.

O tempo passou, nossa igreja passou a se reunir no prédio que ocupa hoje, e a falta de luz ficou no passado. Por algum tempo.

À medida que surgiam mais aparelhos a serem ligados na tomada, a instalação elétrica feita na década de 60 foi ficando obsoleta. E… coitadas das noivas. Uma das vítimas foi minha irmã Cristina. Sendo musicista, preparou com extremo cuidado a parte musical da cerimônia. Organista de primeira categoria, dono da escola onde ela trabalha. Assim que o fotógrafo (nosso primo Adelchi) acendeu aquelas lâmpadas todas e Vladimir começou a tocar… tudo desligado. Como o casamento foi à tarde, não ficamos no escuro, mas seu Osvaldo, que era bastante escolado no problema, correu para o lado do quadro de luz e lá ficou, durante todo o tempo, ligando de novo a chave cada vez que ela desligava.

Mas, no casamento da Susana e do Quico a coisa foi mais complicada. Não foi problema só em nosso prédio. Acabou a luz na região toda, de modo que a cerimônia foi no escuro mesmo, com algumas velas que surgiram não sei de onde e o coral cantando à capela. Acabou sendo tudo muito bonito, com um toque romântico que a luz elétrica deixa de fora. “Fica a dica” para as próximas noivas: que tal uma cerimônia no escuro?

É interessante nossa dependência da eletricidade. Ficamos meio desamparados quando não dispomos dela. E assustados quando ela se vai de repente, sem dar, nem ao menos, um aviso.

Aconteceu há alguns anos, durante um culto. No meio do sermão. Correu aquele zunzum pelo templo. Enquanto nos inquietávamos, ouvimos a voz bem forte do pastor:

– Não se preocupem, o pastor sabe o sermão de cor.

E prosseguiu até o final. Lembro bem da sensação de segurança que senti, por causa da firmeza do pastor. Depois, cantamos “Finda-se este dia”, sem qualquer acompanhamento, oramos, recebemos a bênção e… fomos embora. Tudo no escurinho do templo. Que delícia!

Tempos depois, Márcia Penna comentou comigo:

– O culto mais lindo de que já participei foi aquele em que a luz acabou no meio!!!!!!

Realmente, foi inesquecível.