Nem sempre nos demos bem. Na verdade, até hoje nosso relacionamento é bem peculiar.
Na infância, enquanto os amiguinhos se deleitavam com ele, eu preferia um livro e um trabalho manual. Sempre gostei de ficar sozinha e, quando era criança, para me encontrar com ele, teria que me envolver em algum tipo de atividade em grupo. Ainda não eram divulgados os tipos de relacionamentos individuais que conhecemos hoje.
Na escola, éramos obrigados a nos dedicar a ele pelo menos duas vezes por semana. Eu obedecia, não tinha jeito, mas nunca gostei dele.
O tempo passou e, certa semana, quando eu já chegava aos 30 anos, três médicos diferentes me disseram que eu precisava urgentemente dele:
– Você está totalmente sedentária (como assim????? corria todo dia atrás de duas gêmeas com energia similar à da bomba atômica…). Precisa dele, do exercício físico.
Well, não tinha jeito. Foram três médicos. Precisava me reconciliar com meu desafeto da infância. Mas, como? Trabalhava à tarde,depois buscava as crianças na escola e íamos para casa. Morávamos longe. Chegávamos depois das 19:00. Jamais fui amiga de acordar cedo, então não me propunha a chegar à academia às 6:00 na madrugada.
Tive uma ideia fantástica. Passei a chamar de passeio. Toda manhã, convencia Flávia e Daniela a sentarem no carrinho. Serginho empurrava um, eu, o outro. Assim, eles tomavam sol e eu caminhava. O coitado do Sér começou a fazer caminhadas ainda bem novinho.
Pouco depois, nos mudamos para mais perto do serviço e do colégio das crianças. Eles foram estudar de manhã. Eu os deixava na escola, ia à academia para ginástica localizada e, depois, para o serviço. Mas não surgiu a mínima paixão pelo meu desafeto da infância.
Em 1991, grande mudança na minha vida: larguei meu detestado emprego no Banco do Brasil. Eu e minha prima Zenaide começamos a caminhar no Parque da Cidade, todas as manhãs. Aí eu descobri o charme dele. Foi só em 1991 que ele passou a exercer atração em mim. Foram mais de 10 anos de relacionamento cada vez mais profundo. As caminhadas levaram à musculação e, depois, descobri um grande prazer: jogar tênis. Era péssima, jamais ganhava um jogo, mas ADORAVA jogar.
Em setembro de 2002, longe de ser sedentária, com o peso sob controle, precisei tirar o útero. Foram dois meses até conseguir me recuperar (sou mole com esse tipo de coisa). Em novembro, voltei à academia e ao tênis. Mas sentia dor no braço direito. Achei que era por causa dos dois meses parada. Estava errada, e paguei caro por isso. Era tendinite no ombro. Passei 2003 com dores horríveis no braço, em tratamento intenso. Meu braço ficou paralisado. No início de 2004, estava curada e voltei ao meu amado exercício. Mas, no fim do ano, comecei a sentir dor no braço esquerdo. Agora, já sabia. Comecei logo a tratar, o danado também perdeu os movimentos. No início de 2005, a depressão. Daí em diante eu e ele demos um tempo. Como acontece com os casais humanos, não sabíamos se daria para continuarmos juntos. Foram cinco anos de idas e vindas. Reatávamos, mas logo rompíamos de novo. Sofri com saudade dele.
Só no início deste anos voltamos de verdade. Assim mesmo, nosso relacionamento ainda tem muitos altos e baixos. Passo muitos dias com raiva dele, mas depois sempre acabo me reconciliando. Ele é inabalável. Se eu o procurar, tudo bem, mas jamais veio atrás de mim. Bem, preciso aceitá-lo como ele é…