AINDA NESTA VIDA

Há alguns anos, num final de tarde lindo como só se vê em Brasília, fui ao hangar de uma empresa de táxi aéreo. Um avião pequeno e bonito parou na frente do hangar. Pela janelinha, vi minha amada Vovó sentada. Logo dois homens se aproximaram e começaram a cuidar dela. Pegaram a Bíblia, que a acompanhava a todos os lugares, alguns livros, a bolsona que ela sempre carregava e a ajudaram a se levantar e desembarcar. Só ela no avião, que viera a Brasília com o único intuito de trazê-la. 
Enquanto olhava vovó, meus olhos se encheram de lágrimas. Eu me lembrei de um texto em que Jesus fala em recompensas para os que abandonaram tudo por amor a ele. E foi isso que minha avó fez. Eu estava vendo ali, diante dos meus olhos, o cumprimento das palavras de Jesus. E a promessa de Jesus é para esta vida ainda, não só para depois da morte.
Vovó nasceu e cresceu no interior de São Paulo. Antes de se casar, morava em Rio Claro. Não podemos dizer que era de família rica, mas tinha vida tranquila, com regalias e confortos.
Será melhor que ela mesma conte o que aconteceu. Encontrei ontem, entre as páginas de um dos livros dela, que herdei, o que ela escreveu para dizer em sua festa de 90 anos, que aconteceu no dia 12.4.98, em São Paulo:
Bem jovem, ela deixou tudo por amor. A Deus e ao vovô. Passou dificuldades tremendas. Por muitas tristezas – inclusive a tragédia de perder um filhinho com cinco anos de idade. 
Ele era pastor no interior de Minas, ganhava muito pouco. Ela me contou, por exemplo, que, durante a semana, ela e vovô tomavam banho com sabão de lavar louça para economizar e mandar um dinheirinho para os filhos que estudavam no internato (na cidade deles só havia o primário). Também não compravam papel higiênico. Foi assim que conseguiram que os quatro filhos estudassem. Ela comentava sempre comigo sobre a dor que sentia ao mandar os filhos para o internato, no início de cada ano, sabendo que ficaria meses sem vê-los, e que eles não queriam ir. Mas era necessário, eles precisavam estudar, tinha que ser naquele colégio específico, porque não pagavam. 
Aquele avião pertencia ao filho dela. Como o filho de um pastor pobre, que estudou em uma cidade pequena no Espírito Santo, com uma bolsa de estudos ainda por cima, conseguiu prosperar tanto? Por causa da promessa de Deus, feita aos pais dele, que amavam a Deus acima de tudo. Até hoje todos nós, da família, recebemos as recompensas da dedicação de meus avós a Deus.
Nem todos os filhos prosperaram a ponto de terem avião particular, claro, Deus não prometeu isso. Mas nenhum passa pelas lutas que meus avós passaram.
Outro dia, meu tio me mandou uma foto linda: ele todo feliz com a bisneta no colo! E eu me lembrei de novo da promessa de Deus. Louvei meu Senhor pela fidelidade dele. Agradeci pela graça de ter nascido com antepassados que prepararam o caminho para que minha vida fosse mais abençoada. E pedi que eu seja capaz de fazer o mesmo, para que minha descendência continue a receber tanto quanto temos recebido.
Muitos desperdiçam a vida correndo atrás de muitas coisas, para deixar herança para os filhos. No entanto, a lógica eterna é o contrário: abra mão de tudo e coloque Deus em primeiro lugar em sua vida. Aí, sua descendência terá tudo de que precisa, e até mais. Sobrando. Em abundância. Não quer dizer que você não vai trabalhar. Vai, e muito. Meus avós trabalhavam duro. Vovô fazia longas viagens a cavalo para abrir igrejas pelo interior de Minas (e acabou com a saúde e morreu cedo por causa disso), enquanto vovó cuidava dos filhos, da igreja e da escola. Mas a perspectiva era certa: faziam apenas o que Deus mandava, iam aonde ele levava, tinham seu Senhor como o amor maior da vida. Assim, tudo mais se encaixava no devido lugar.
E deu certo, muito certo. 
Posso garantir, eu vi e vejo acontecer todos os dias.
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