Desde o início da minha empreitada de contar 50 histórias dos 50 anos da Igreja Metodista da Asa Sul, decidi que não escreveria nenhum post sobre uma só pessoa. Isso porque, se começasse a homenagear gente de nossa comunidade de fé, pessoas vivas ou mortas, acabaria cometendo injustiças e poderia magoar alguns.
Mas vou abrir uma exceção. É para confirmar a regra.
Ela se foi há muitos anos, cedo demais. Era a vida, a alegria da nossa igreja. Dona Léa animava qualquer reunião. As noites de sábado eram especiais quando ela decidia organizar uma festa. Da comédia escrachada ao estudo bíblico mais sério, ela circulava à vontade em todos os meios.
Nos primeiros anos de nossa Igreja, eram poucos os finais de semana sem alguma atividade social. Mas… depois que ela se foi, ficou dolorido demais voltar ao modelo de reunião que ela amava dirigir, cheia de risadas.
Uma vez, ela fez uma adaptação de “A Bela Adormecida”. Cômica. Ela foi a fada madrinha. Em outra noite, colocou os pais dos membros do Ele Vive para cantarem como se fossem os filhos. Nos imitaram direitinho, até cantando de mãozinha dada e balançando de um lado para outro. Em uma virada de ano, exatamente à meia-noite, soltou um “rojão” na porta da igreja, enquanto o pastor ainda orava. Quase matou todo mundo de susto.
Em uma viagem da mocidade a Belo Horizonte, lá estava ela. Durante o passeio para a turma conhecer a cidade, o ônibus fez uma parada perto de um parque de diversões. Estava chovendo. Havia um tobogã, que era novidade na época. Ela mandou o motorista esperar, porque nunca tinha experimentado escorregar. Ninguém acreditava que aquela “senhorinha” ia ter coragem de enfrentar o negócio na chuva. Mas lá foi ela. Voltou toda ensopada, pingando pelo ônibus, mas feliz da vida!
Era assim. Cheia de vida. A risada dela é inesquecível. Deixou um buraco que nunca foi preenchido. Até hoje não voltamos a ter noites de sábado divertidas como as que ela organizava.
Trabalhava muito. Com sete filhos, ninguém pode se dar ao luxo de ficar de pernas pro ar. Mas arrumava tempo para escrever poesias lindas, que sempre transmitiam sua fé e a riqueza de sua vida espiritual. Eu gostava muito de conversar com ela. À noite, depois de cumprir todas as suas inúmeras tarefas, ela gostava de recostar na cama e ler romances. Lá íamos eu e Leonora incomodar. Nunca vi qualquer sinal de impaciência. Nos dava toda a atenção, dava conselhos, ria com a gente, na época das cigarras a gente discordava – ela amava o canto das danadinhas e eu simplesmente detestava.
Como tenho escrito muito sobre o passado, preciso reafirmar sempre que não sou saudosista, não penso que sempre o de antes é que era melhor. Gosto do novo, amo o inesperado, o que vem adiante. Mas aqui, neste caso, preciso dizer que não há reparação. Não existe ninguém que possa suprir a falta que dona Léa faz, até hoje, para todos que a conheceram.
Há alguns dias, Quico enviou umas fotos que dona Ceres tem, e eu tomo a liberdade de colocar aqui. Infelizmente, eu não tenho nenhuma fotografia em que ela aparece. São uma pequena amostra do espírito alegre dessa que foi embora cedo demais da conta. A roupa, a peruca, a maquiagem, as bijuterias, tudo fazia parte do personagem que ela interpretava (infelizmente, não lembro o que era).