No dia 20 de maio completamos 19 anos morando aqui nesta casa. Daqui a alguns dias, começa a quinta Copa do Mundo que assistimos aqui. Assistimos mesmo. Família reunida. Todo mundo de uniforme da seleção.
Antes, com televisões menores, Sérgio levava para a churrasqueira, arrumava um toldo para diminuir a claridade, a gente levava o microondas para a pipoca, e a festa era lá. Depois, a televisão grande, na sala, e Sérgio refugiado em nosso quarto, porque nós, mulheres, fazemos barulho demais. A festa passou a ser dentro de casa mesmo.
Houve um momento de tensão. Brasil perdendo. Meu cunhado Joel brigando com os jogadores. E eu brigando com o Joel. Por fim, ele falou:
– Não estou incomodando ninguém!
E eu:
– Está ME incomodando!
O coitado foi embora, claro. A dona da casa fala que ele está incomodando. Me perdoe aí, viu, Billy? Não vou fazer isso nunca mais.
Fora esse incidente, sempre é uma delícia. Vai chegando o horário do jogo e a turma vai aparecendo. Com refri, pipoca, bolo, paçoca, e outras coisinhas gostosas.
Não me esqueço do dia em que a seleção voltou, depois daquele jogo contra a França. Fomos para perto do aeroporto, como sempre fazemos quando eles passam por aqui. O ônibus passou por nós, e todos lá dentro estavam olhando meio desconfiados para as pessoas no caminho. Zagallo estava no primeiro banco, com ar triste. Passou bem perto de mim, acenei para ele, fiz sinal de positivo. Ele hesitou e acenou para mim com um sorriso meio sem graça. Depois, em entrevista, ele e os jogadores disseram que estavam assustados, achando que íamos brigar com eles. Mas estávamos lá para dar uma força, para dizer que amamos nosso time de futebol. Clarice os viu já no centro da cidade. A situação era outra. Todas as janelas abertas, eles com meio corpo para fora do ônibus, acenando alegres para os torcedores. É assim o relacionamento dos brasileiros com a seleção. Fazer o quê? Aproveitar e torcer.
O melhor dia foi quando o Brasil foi campeão, na Copa seguinte, em jogo contra a Alemanha. Fizemos um brunch só com comidas alemãs. Cada um trouxe uma coisa. Até linguiça branca e chucrute nós conseguimos. Tínhamos tanta certeza de que íamos ganhas que já preparamos antes. E foi só correr para o abraço.
Tenho cumbucas verdes e amarelas que só usamos durante as Copas. Bandeiras que penduramos na varanda. Houve um ano em que enfeitamos a garagem com bandeirinhas verdes e amarelas, daquelas de festa junina.
E eu pergunto: e neste ano, como será?
Espero que do mesmo jeito. Todos reunidos, torcendo, rindo e chorando, como costumamos fazer.
Penso em como seria se os preparativos para a Copa não tivessem envolvido tanta corrupção, tantos desmandos, tanto engano… O Brasil estaria todo pintado com nossas cores nacionais, o povo cantando e dançando pelas ruas. É uma pena, mas eu vou torcer. Como sempre, apaixonada pela seleção. Espero, de todo coração, que a família queira se reunir aqui de novo. E, se ganharmos, vou celebrar.
E se acharem que sou alienada? Bem, não sou muito de pautar o que faço pela opinião alheia, então… Brasi-i-i-i-i-i-lllll!!!!!
O que temos a dizer sobre a copa:
http://interferenciaurbana.wordpress.com/2014/05/28/faltam-15-dias/