100 HAPPY DAYS

Você vem pela vida, singrando mares tranquilos. De repente, seu barco começa a ser batido de um lado para outro por ondas bem violentas. Parece que cada dia traz uma novidade ruim. As más notícias se tornam rotina.

Não sei se acontece com todo mundo. Aconteceu comigo, algumas vezes. Períodos de bonança, depois um tempo de abalos sísmicos.

O ano passado foi de tsunamis. Comecei a acordar nervosa todos os dias. Meu primeiro pensamento era: “O que será que vai acontecer de ruim hoje?”.

Não sou assim. Nunca fui de ficar esperando coisas ruins. Sempre otimista, à procura do que haveria de gostoso escondido em cada dia. Acordava e, ao abrir a janela, já estava cantando.

Acordar nervosa começou a me incomodar, e passei a pedir a Deus todos os dias, antes de dormir, para não acordar sobressaltada, nem à espera de más notícias. Ele atendeu meu pedido. Mas eu queria mais.

Participei de uma reunião de mulheres no Núcleo da Fé. Cláudia, não eu, a preletora, disse que na infância, seu sonho era ser a Mulher Maravilha. Girar em torno de si mesma e aparecer fantástica, com superpoderes. E nos levou a fazer uma coisa meio doida: girar como a heroína e assumir que havíamos adquirido algo especial.

Gosto de coisas doidas. Girei, girei, e continuei girando por vários dias. Acredita que eu me sentia diferente depois dos giros? Pois pode acreditar. Já faz mais de um mês que participei dessa reunião e, quando estou me sentindo pra baixo, ainda dou umas giradas. Embaixo do chuveiro, então, é o ouro!

E continuei a tomar providências para sair do ciclo de más notícias-tristeza-preocupação-espera por outras más notícias.

Já tinha reparado no Facebook várias pessoas postando fotos com a tag #100happydays. Resolvi pesquisar. Simples: a cada dia você posta uma foto de alguma coisa que gerou alegria. Faz isso durante 100 dias. Logo vi que seria bem legal participar disso.

Estou no décimo dia ainda. E uma coisa gostosa aconteceu. A cada manhã acordo imaginando o que será que terei de alegre para fotografar. Hoje, já sei: Marcos dormiu aqui e está ali fora jogando bola. Já vou lá fotografar a coisa alegre de hoje.

O mais legal: descobri que os dias têm várias coisas alegres e que preciso escolher uma delas.

Você acha que parei de receber más notícias? Não mesmo. Pensa que estou singrando mares tranquilos? De jeito nenhum. Mas dei uma girada e estou tentando olhar por outra perspectiva. Talvez até consiga surfar nas ondas gigantes…

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MORDIDAS E MAIS MORDIDAS

Com cerca de dois anos, Flávia passou por um período em que atacava a Daniela com os dentes. Quando se trata de gêmeos, a situação é um pouco mais simples do que quando lidamos com crianças de idades diferentes, em que uma tem muito mais força do que a outra. De qualquer modo, eu não admitia as mordidas, nem qualquer outro tipo de violência entre os irmãos, e falei para a Flá que todas as vezes ela iria levar uma palmada. (Será que a lei da palmada pune fatos passados há mais de 20 anos? Se punir, estou no sal!)

O problema se agravou: ela não ligava a mínima para a palmada e mordia cada vez mais a irmã. Eu procurava uma solução e não conseguia achar. Não gostava de ficar batendo na Flá. Pensei em mandar a Dani morder de volta. Não servia. Apenas reforçaria um comportamento que eu queria banir de minha família.

Um dia, tive uma ideia um tanto bizarra – confesso que sou uma mãe um tanto bizarra. Chamei a Flá e falei, bem séria:

– De hoje em diante, todas as vezes que você morder a Dani, em vez de bater em você, eu vou te morder. Com força.

(Agora vou para a cadeia, com certeza.)

Resolvi o problema. Ela mordeu. Peguei o bracinho dela e deixei a marca dos meus dentes. Foi o último ataque dos dentinhos nervosos dela. Não mordeu mais a irmã e nunca mordeu nenhuma outra criança.

Lembrei-me disso hoje, por causa dos comentários de meu primo Gustavo sobre a mordida do jogador Suárez. Ele comentou como foi vergonhosa a reação não só do jogador, como também de toda a delegação. Ninguém pediu desculpas, não houve mea culpa. Criticaram a postura da FIFA, disseram que as imagens foram montadas. E, assim, passaram a mão na cabeça de um homem que já fez isso em outra ocasião e, cercado por tanta complacência, provavelmente voltará a agir da mesma forma, ou fará coisa pior. Estão dizendo a ele que ele pode tudo, pelo menos dentro da seleção dele.

Será que a mãe dele teria ajudado se o mordesse quando ele era criança e mordia os coleguinhas na escola ou no parquinho?

Temos outra mordida famosa: a de Mike Tyson na orelha de Evander Holyfield. Essa história sabemos como acabou: carreira encerrada, mais tarde prisão por estupro. Ele achava que podia fazer qualquer coisa e se safar.

E eu me lembrei de outro atleta que cometeu um ato feio durante uma copa: Leonardo e a cotovelada, em 1994. Na época, recordo bem que os outros jogadores e o técnico lamentaram o ocorrido, o próprio jogador declarou ter agido no calor do jogo, que havia errado. E o fato é que ele conseguiu prosseguir com sua carreira. Não é perfeito, mas agiu com honradez depois de cometer um erro.

Não conheço a família do Suárez, não sei em que ambiente foi criado, mas uma coisa fica clara em seus atos: não o ensinaram a assumir seus erros, a admitir quando “pisa na bola”, a tentar corrigir suas falhas. Li, também, que ele sofre de alguma doença que o leva a ser impulsivo demais. E conto a esses uma grande novidade que parece não ter chegado a eles: para isso, há tratamento. Tanto com remédios quanto com terapia. Fingir e negar que aconteceu não vai ajudar em nada o moço.

Espero que apareça, na vida dele, alguém que seja doido o suficiente para dar uma mordida nele e levá-lo a pensar dez vezes antes de repetir o erro. Parece difícil, já que todos que se manifestaram na história (pelo menos o que ouvi) passaram a mão na cabeça dele. “Tadinho, a punição foi severa demais.”

Caramba, foi um adulto mordendo outro adulto! Em cachorro a gente coloca focinheira. Poderia ser uma solução…