Já que aceitei o desafio, tenho que ir em frente. Comentei sobre o desafio no post Fale Sobre Você. A tarefa de hoje: escrever sobre um tema apresentado no Daily Prompt, que é uma frase, ou uma expressão, a partir da qual temos que escrever um post. Na verdade, essa tarefa era do dia 30.4, mas eu não estava passando bem naquele dia, então vai hoje. E o título é: Worst Case Scenario. A tradução literal é A Pior Situação Possível.
Poderia apresentar várias situações trágicas e tristes, mas acho melhor partir para o humor. Já há tragédia demais na vida, e eu tenho achado meu blog muito sério nos últimos tempos.
O fato é que sempre que a gente pensa que uma coisa não pode piorar, ela acaba achando um jeito de ficar mais complicada.
Por exemplo: eu e minhas primas de São Paulo éramos adolescentes. Naquele tempo de férias escolares bem lonnnnnngas, elas passavam muitos dias aqui em Brasília, e eu também ficava bastante tempo na casa delas, em SP. Lá, o quarto delas tinha janela para o fundo da casa. Daquele quadrado mágico, avistávamos umas casas na outra rua, que ficava num nível mais baixo, depois de um espaço coberto de vegetação. Descobrimos dois rapazes que ficavam muito tempo na frente da casa deles, mexendo no carro. Logo os batizamos de Barbicha e Bigodé (isso mesmo, oxítona). Nunca soubemos o nome dos dois. Evidente que um usava uma barbichinha e o outro tinha bigode. Não sei se eram bonitos, porque a distância não permitia identificarmos os traços. Um dos rapazes era meu e o outro, da Lílian. Acho que o meu era o Bigodé, mas não tenho certeza. Ficávamos debruçadas na janela, falando alto, tentando chamar a atenção deles. Pelo tempo que passavam na frente da casa, acredito que os dois repararam em nós, e gostavam da atenção.
Fomos ficando ousadas. Falávamos mais alto, tentávamos nos comunicar com eles. Se voltávamos para casa de carro, pedíamos para o motorista – Solange ou Waldo – dar um jeito de passar pela rua deles (nem eu nem Lílian dirigíamos ainda).
Certo dia, tomadas da coragem suprema, resolvemos passar na frente da casa deles de bicicleta. Problema: só havia UMA bicicleta. Monareta:
Bonitinha, né? Não era essa, peguei a foto na internet, mas era igual. Repare num detalhe: a garupa fica bem abaixo do banco do “motorista”. Esse fato é importantíssimo na tragédia que vou narrar.
Deixando de lado todas as leis da física, decidimos que Lílian, bem menor e mais magra do que eu, seria a condutora. Eu, pesadinha, na garupa. Pensa em todas as risadas que demos, nos planos que fizemos. Iríamos parar na casa deles? Uma volta ou duas? Solange e Emília davam todos os palpites possíveis e impossíveis. Suzana, ainda bem pequena, também dava uns pitacos.
Um detalhe importante: a rua da casa de Barbicha e Bigodé era de cascalho. Vimos, pela nossa janela, que os dois estavam mexendo no carro, vestimos os shorts e camisetas mais transados que tínhamos e partimos na aventura arriscada.
Cena ridícula. Eu tinha que ir com as pernas no ar, não tinha onde apoiar os pés. Já saímos de casa rindo, claro. Para chegar à rua deles, dobramos a primeira esquina e descemos a pequena ladeira. Assim que chegamos ao cascalho a coisa começou a complicar. A Lílian tinha que fazer um esforço danado para me carregar, a bicicleta começou a derrapar. As risadas aumentaram. Barbicha e Bigodé nos ouviram e olharam para nós. Ela virava o guidão de um lado para outro, tentando equilibrar a bendita bicicleta. E eu tentava equilibrar minhas pernas no ar. Que cena devia ser! Vimos que Solange e Emília estavam na janela, também rindo de nós.
Chegamos bem na frente da casa dos alvos de nossos afetos, eles olharam para nós e… caímos da bicicleta. Isso mesmo. Estateladas no cascalho. Não dá pra piorar. Ah, dá, sim. E muito.
Levantamos, às gargalhadas, e voltamos à Monareta. Ah, triste sina a nossa. Era uma subidinha. Lílian sentou no banco, eu na garupa. Assim que ela pedalou e eu tirei os pés do chão, meu peso, combinado com a inclinação do terreno, fez a bicicleta empinar como cavalo bravo. Caímos de novo, agora para trás, Lílian e bicicleta em cima de mim. Não dá pra piorar. Ah, dá sim. E muiiiiito.
O acesso de riso foi crescendo e, com ele, a vontade de fazer xixi. Sim, você acertou. Fizemos xixi na calça de tanto rir depois de dois tombos na frente dos gatos da rua dos fundos. Agora não dá pra piorar. Dá, sim, porque ali acabou aquela paixão tão intensa, aquele caso de amor duplo. Que tragédia, uma história tão linda foi levada embora pelo xixi.
Tudo muito engraçado, mas a verdade é que, em geral, as coisas podem piorar muito. Então, é melhor não reclamar de nada. Pode piorar.