A HISTÓRIA DE ANA 2 (ficção)

CONTINUAÇÃO DE A HISTÓRIA DE ANA:

Perder os sentidos foi o melhor que poderia acontecer. Tanta dor, confusão completa. Não entendia o que lhe acontecera. Sua história continuava a passar-lhe pela mente, como um filme.

Não tinha nem 12 anos quando foi trabalhar na casa de outra família. Na verdade, achou bom. Era menos gente, dava para limpar – o chão era de cimento! Só não gostava de cozinhar. O banquinho em que subia para alcançar o fogão era meio torto, tinha medo de cair, de se queimar.

A patroa era bondosa. Ensinou Ana a cuidar bem da casa. Mas também não tinha dinheiro. Segundo os padrões de Ana, era rica, mas, na realidade, era gente de pouquíssimos recursos.

Ana queria estudar. Ardia de inveja das filhas da patroa, que iam todos os dias para a escola, com o uniforme limpo e engomado que ela lavava e passava todos os dias com capricho e muitas lágrimas.

A vida seguiu… Tinha 16 anos quando abriu a porta para um entregador. Gostou logo do rapaz simpático e educado, que também gostou dela, apesar de não achá-la bonita. Em pouco tempo, namoro, noivado e casamento. Como ela sempre sonhara. Marido bondoso, carinhoso. Era amor de verdade. Foram morar em um barraco feito em terreno de ninguém.

Cadê o João? E os meninos? Por que me prenderam aqui? Não consigo respirar, acho que vou morrer! Socorro!

A vida dos recém-casados era difícil. Ana e João concordavam: nada de um monte de filhos, e todos vão estudar. Vão ter a vida melhor do que a nossa. E o casebre era cuidado com o maior capricho possível. Sempre limpíssimo e enfeitado com flores que João trazia para Ana. Colhidas no mato. Pensavam em ter dois filhos. Deus mandou três: Pedro, Paulo e Maria.

Tanto Ana quanto João eram exemplos de pai e mãe dedicados, amorosos, exigentes. Era uma família feliz.

Ana, apesar de toda a dor e mal-estar, não esquecia os olhos azuis da médica. Tinha acontecido mesmo ou fora sonho? Aos poucos, foi se lembrando: estava na Catedral. Mas, como acabara presa naquele lugar escuro? Não entendia.

Cada vez que acordava, gritava até perder as forças, mas ninguém apareceu. Pela fresta, entrava luz, que batia bem no rosto dela. Mas, às vezes, a luz sumia. Aí era ainda mais aterrorizante sua prisão. Depois, concluiu que devia ser a luz do sol e, quando sumia, era noite.

Pensava em João, nos filhos, e pedia a Deus para eles a encontrarem, apesar de não ter a menor ideia de onde estava, nem de como acabara naquele lugar.

Pedro, Paulo e Maria aprenderam desde cedo a conversar com Deus. Os pais ensinaram.

João e Ana trabalhavam duro, e a vida foi melhorando. Conseguiram comprar uma casinha pequena, mas de alvenaria! Piso de cimento! Que alegria imensa para Ana! Tinha vontade de beijar o cimento que a separava da terra batida que a acompanhara a vida toda.

Fieis à promessa, Ana e João fizeram os filhos estudarem. Foi difícil. Muitas vezes as crianças se rebelavam. Os pais conversavam seriamente com elas, explicavam a importância de terem profissões melhores, de prosperarem. E conseguiram: Maria era professora, Pedro, contador e Paulo, bancário. Quanto orgulho para os dois batalhadores! Às vezes, Ana achava que o coração ia explodir de tanto orgulho.

Que fome! Como dói! Que sede! Ana começou a falar com Deus em voz alta. Achava que estava ficando louca, mas era melhor enlouquecer do que continuar presa ali. Tentava descobrir o que tinha acontecido. A cruz azul. Catedral. Olhos azuis. Mais nada. Era melhor, mesmo, conversar com Deus e cantar. A voz não era lá muito maviosa, porém ela acreditava que Deus vê a música do coração.

CONTINUA EM A HISTÓRIA DE ANA 3

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