ADULTOS!

Muito, muito interessante. Meu último post foi sobre meu filho. E lá vou eu falar sobre maternidade mais uma vez. Por que será que as mães são tão repetitivas quanto a sua experiência nesse campo? Elementar, meu caro Watson, é o mais importante de nossa vida (pelo menos, deveria ser).

Considero-me uma mãe meio diferente. Sabe aquela coisa de esquecer de si mesma, de desdobrar fibra por fibra o coração, de fazer comidinhas que os filhos amam, de acordar de noite para ver se todo mundo está coberto? Não fiz nada disso. Um exemplo: acordei um dia e vi a Flávia, que tinha por volta de 5 anos, dormindo no chão. Acordei porque estava na hora de irem para a escola. Então, tive que chamar a coitadinha. Falamos com ela sobre ter caído da cama e ela, na maior tranquilidade:

– Mas eu caio toda noite!

Quis achar um buraco e me enterrar. Que tipo de mãe não sabe que a filha caiu da cama? Bem, o meu tipo.

Sei que tudo isso que as mães, digamos assim, comuns fazem é importante, e muitas vezes senti culpa por não me encaixar nesse papel. Eu, porém, sou do tipo que cria os filhos para voarem, saberem se virar sozinhos nas situações. Desde pequenos, eu conversava com eles sobre o que fariam na vida, sobre os sonhos que tinham. Para as meninas, repeti muito que a vida é mais do que esperar marido, é uma aventura para nós, mulheres, assim como é para os homens. Acho que falei demais, agora nenhuma das duas nem pensa em se casar.

Sempre dei apoio aos sonhos mais doidos, que pareciam impossíveis. E eles foram voando, cada vez mais alto.

Ao mesmo tempo, fui super protetora observando os voos. E, quando algum parecia que ia cair, ou ficava inseguro, lá estava eu para dar um empurrão ou pegar no colo.

Duas situações são muito lembradas, as duas envolvendo a Flávia, mas acontecia com os outros dois também. Estava chovendo e o trânsito completamente engarrafado. Com isso, chegamos à escola quase uma hora atrasados. Serginho e Dani pegaram as mochilas e correram para a sala. Flávia me agarrou chorando e disse que não queria entrar, que estava com vergonha. Todo mundo ia olhar para ela. Tentei convencer, mostrei que ainda tinha crianças chegando, que a professora sabia da chuva. Não adiantou. Com toda minha autoridade materna, peguei a mão da menina e levei de volta pra casa. Verdade, não forcei a entrada na sala, levei para casa. Matou aula com autorização da mãe. Quando fui buscar os outros dois, estavam furiosos porque a Flá tinha ido para casa e eles para a aula.

Anos depois, a mesma Flávia estava prestes a ser reprovada, porque não conseguia nota em física. Fui conversar com a orientadora. Comecei a falar sobre o problema e… caí no choro.

– Ela é tão boazinha, não merece isso!

A orientadora, bem, chorou comigo. E me indicou um professor particular que resolveu o problema. Nunca me envolvi muito com os trabalhos escolares. Eles tinham que se virar. Eu me virei, eles também são capazes.

Até hoje não posso reclamar. Sobre o Serginho, leia meu post anterior que você vai ver como ele vai bem na vida. Flávia foi chamada por Deus para ser missionária. Mora no Canadá, é muito querida pela equipe com que trabalha. Ela e Daniela viajaram tanto, conhecem lugares que eu nem penso em conhecer.

Mas foi anteontem que me dei conta de que meus filhos cresceram MESMO. No ano passado, Dani sofreu muito por causa de três hérnias de disco. Vinha bem nos últimos meses, sem qualquer dor, voltando a jogar tênis (muito bem, por sinal, modéstia às favas) e a fazer os esportes que tanto ama. Uma de suas amigas perdeu a avó e ela foi ao aeroporto ajudar com passagem e embarque. Trabalha nessa área e está sempre pronta a ajudar a todos.

Bem, foi descer uma escada e caiu. Veio em casa para trocar o sapato, que estava escorregando. Mancava um pouco, como no tempo da hérnia. Fiquei com tanta pena! E falei logo:

– Você precisa ficar de repouso.

Ela me respondeu que não tinha a menor chance. A colega dela está de férias e ela tinha que ir trabalhar. Meu ímpeto foi dizer que eu ia no lugar dela. E me dei conta de que não sei, absolutamente, o que ela faz. Sei que emite passagens, faz reservas, coisas assim, lá no Banco Mundial. Todavia, não tenho o conhecimento  que ela tem.

PAREM AS MÁQUINAS! Meus filhos sabem mais do que eu!!! Cresceram, são adultos, autônomos, têm vida separada da minha. Quando foi que desapareceu o cordão umbilical? Quando foi que pararam de recorrer a mim para resolver os problemas?

Afff! Envelheci muito com essa constatação. E fiquei feliz: meu plano funcionou. Estão voando alto!

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