Para mim, uma das características mais marcantes de New York são as portas giratórias.
São lindas. Nos prédios de estilo mais clássico, eles põem as molduras de madeira com metal dourado. Fica muito lindo.
Desde a primeira vez em que estive lá as tais portas me chamaram a atenção. Não entendia porque quase todo lugar tinha aqueles trambolhos em vez de uma simples porta. Depois, aprendi que elas, antigamente, serviam para manter o interior dos prédios aquecidos, já que as portas comuns, ao serem abertas, deixam entrar lufadas de vento gelado e as giratórias não deixam.
Muito espertos, os novaiorquinos. O problema é que eu não sou esperta.
Assim como ontem, sem qualquer modéstia, falei que sou ótima para arrumar mala, hoje, sem qualquer sentimento de inferioridade, declaro que careço imensamente de agilidade e coordenação motora.
Diante disso, MORRO DE MEDO DE PORTA GIRATÓRIA!!!!!!!!!
Só entro se não tiver ninguém saindo ao mesmo tempo. Também não pode ter ninguém entrando junto comigo. Isso porque a outra pessoa pode acelerar o passo, ou diminuir, e eu ter problemas para acompanhar a alteração no ritmo.
E tem umas que giram o tempo todo, com um motorzinho. Essas são um pavor, porque não posso segurar, parar a danadinha para eu entrar e sair.
Naquela primeira viagem a NY, quando travei conhecimento mais chegado com as que giram, passei um vexame enorme. Na Tiffany’s!!!!!!!! Na Quinta Avenida!!!!!!!! Ai, como sofro!
Fui enfrentar minha inimiga que roda. Até que comecei bem. Não sei o que aconteceu entre nós no curto espaço de tempo em que tivemos contato, mas a verdade, estabelecida e reconhecida, é que tropecei e entrei numa das lojas mais chiques do mundo catando cavaco, que nem um elefante desembestado, e quase enfiei a cabeça em um daqueles mostruários do vidro mais transparente que existe no mundo. Pensando bem, eu devia ter enfiado a cabeça, me cortado. Uns pontinhos, mas garanto que eles me dariam um pequeno prêmio de consolação. Ai, como sofro!
Bem, amanhã, se Deus permitir, reencontro minhas inimigas. Mas, num lapso de esperteza, depois de muitas provações nas giratórias, descobri que praticamente todas têm ao lado uma porta comum, e que a gente pode entrar por elas. Elegante como uma dama! Sem qualquer ansiedade ou sofrimento. Eu já disse que careço de agilidade? Mental também. Levei cerca de 20 anos para descobrir a porta comum. Ficava tão apavorada olhando para a outra que não me dava conta de que tinha a boazinha ao lado.
Ontem, fui ao Banco do Brasil. Eu nunca vou a banco nenhum. Mas ia comprar minhas doletas, então fui. Porta giratória. Pensei:
– Bom treinamento, já que a partir de domingo vou ter que lutar contra elas.
Entrei. Ela travou comigo lá dentro. Pensa num escândalo. O segurança estava perto, e eu:
– Moço, moço, me socorre, tô presa aqui!!!!!
– A senhora tem metal na bolsa? Celular, moeda, essas coisas?
– Tem de tudo, moço! Me tira daqui, por favor!
Ele queria rir, mas não podia. E tinha que examinar minha bolsa. Eu não sabia que tem um lugarzinho do lado para a gente deixar as coisas de metal e a porta não prender a gente.
Eu abri a bolsa na maior rapidez que minha super agilidade permitiu. Se ele tivesse mandado, acho que teria tirado a roupa na mesma velocidade.
Ele, enfim, começou a rir e me deixou entrar. Eu estava tão apavorada, tremendo, sem ar, que não sabia para que lado tinha que ir. O homem foi bonzinho. Me mostrou direitinho onde pegar a senha (estou cansada de saber, mas não conseguia raciocinar). Sentei ofegante, peguei o Nextel e chamei a Clarice:
– Acabei de ficar presa em uma porta giratória!!!!!!!!
Não sei por que cargas d’água ela começou a mangar de mim.
À noite, quando contei para o Sérgio (tentei ligar para ele também do Banco, mas não consegui), ele falou:
– E por que você não voltou?
E eu:
– Ué, a porta gira ao contrário?
Não sei por que cargas d’água continuaram a mangar de mim.
Ai, como sofro!
Mas agora fiquei mais esperta. As portas de NY que me aguardem. Conheço TODOS os segredos delas. Têm uma boazinha ao lado e giram ao contrário. E se tiver uma janelinha, a gente tem que colocar os metais lá. Aprendi tudo. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos…
Claudia, adorei sua historia, ou melhor, drama, com as portas giratórias. Este não é um problema só seu… Gostei da forma como escreve, como se estivesse conversando com a gente. Sucesso com seu blog, e quando puder, visite o meu! É interessante como tenho a impressão de conhecer bem voce, apesar de nunca termos conversado: a Solange sempre falou de voce com tanto carinho e admiração que isso passou pra mim. Boa viagem, aproveite muito ! BeijossssElô