Durante o ano de 1965 aconteceram várias manifestações populares nos Estados Unidos. Três marchas se destacaram. Aconteceram em uma estrada chamada Selma, no estado do Alabama. Os manifestantes lutavam pelos direitos civis dos negros. Houve confrontos sangrentos com exército e polícia. Foi um tempo de mudança, marco importante na luta pela igualdade racial.
Assim que deixou a presidência, Barack Obama concedeu uma longa entrevista a David Letterman. Está disponível na Netflix e vale a pena assistir.
Os dois homens deram um show de conversa inteligente. Os temas variaram muito e, já perto do final da entrevista, conversaram sobre o que tinha acontecido em Selma.
Letterman narrou com humor a viagem que estava fazendo com colegas de faculdade na mesma época. Segundo ele, passou dias se divertindo, em aventuras inesquecíveis, enquanto os fatos históricos se desenrolavam em Selma. Após algumas risadas, ele ficou bem sério, olhou para o ex-presidente e falou:
– E até hoje eu me pergunto: Por que eu não estava em Selma?
A pergunta dele me tocou profundamente.
Quantas vezes deixamos passar fatos importantes como as marchas no estado do Alabama em 1965! Quantas vezes estamos seguindo pela vida despreocupados, sem pensar em mais nada além do que queremos fazer, enquanto a história acontece bem do nosso lado!
Fatos determinantes na história não acontecem todo dia e muitos ocorrem em silêncio. Se minha percepção não estiver afiada, vou perder tudo.
O mesmo vale para a escala pessoal. David Letterman perdeu algo que mudou a história de um país. Mas, muitas vezes, perco fatos importantes da minha vida, da vida das pessoas que eu amo.
O único meio de evitar isso é afiar o radar para perceber as nuances ao nosso redor, os rumores de que há alguma coisa acontecendo em algum lugar.
Penso que a pergunta de Letterman é uma das mais tristes que eu posso fazer. Por que eu não estava lá? Por que não me apresentei? Por que não participei?
Oportunidade perdida não volta…
Lembrei-me de uns versos do Beto Guedes (na voz do Milton, claro): “Quem perdeu o trem da História por querer saiu do juízo sem saber…”