EU E A RITA, ou, ATÉ QUANDO?

Só conheci a Rita de vista. Eu a cumprimentei várias vezes, ao chegar e sair da casa de dona Loide, onde ela trabalhva. Trocamos umas palavrinhas algumas vezes, mas nada além disso. Eu nem sabia que ela estava grávida. Eu sabia que era uma boa empregada, que cuidava do serviço com carinho.
Hoje, ao entrar no Facebook, fui surpreendida pela notícia de sua morte. Por complicações no sétimo mês da gravidez. Como dependia do sistema público de saúde, morreu. Mais uma das milhares (milhões?) de morte pelas quais os “grandes” do Brasil terão que responder algum dia. Seja aqui neste mundo ou na eternidade. Espero, de todo coração, que tenham que responder já aqui neste mundo. O sangue dela está nas mãos dos que desviam os recursos destinados à saúde pública.
Eu tive uma gravidez muito complicada. Gêmeas. Daniela atravessada na “saída”. Flávia sentada em cima dela. Tive pré-eclâmpsia. A pressão máxima só foi informada a mim até 22, depois não me diziam mais. Não me lembro da mínima. Quando minha pressão começou a subir, no quinto mês da gravidez, o médico passou a me examinar todas as semanas. No sétimo mês, achou que a situação estava mais preocupante, me fez entrar em licença saúde, repouso completo. Ia à minha casa três vezes por semana para aferir minha pressão. Além disso, eu verificava meu peso pela manhã e à noite (uma das características da pré-eclâmpsia é o aumento súbito de peso, devido à retenção de líquido). Se a diferença entre os dois pesos fosse maior do que 1,5kg, eu telefonava e ele ia imediatamente à minha casa para verificar a pressão. Por causa de todos esses cuidados, aos oito meses de gravidez ele decidiu me internar. Após dois dias de internação, fez uma cesariana que salvou a vida de nós três.
Ainda não sei qual foi a complicação na gravidez de Rita, mas tenho certeza absoluta de que, caso recebesse a mesma atenção médica que recebi, dificilmente estaria morta hoje.
A injustiça dessa situação me traz lágrimas aos olhos. Por que o descaso com os que precisam da saúde pública? Até quando as pessoas vão morrer antes da hora?
E não adianta culpar os médicos. Os salários oferecidos a eles na rede pública é uma piada. Depois de estudar MUITO para conseguir entrar na faculdade, fazer um curso pesado, estudando muitas vezes dia e noite, de fazer residência, eles recebem uma ninharia para atender uma multidão de necessitados.
A meu ver, em nosso país, médicos e professores são os profissionais mais mal pagos. E eles têm nas mãos, literalmente, o futuro da nação.
O mais terrível é que mortes como a da Rita acontecem a todo momento, por todo o Brasil preocupado com a Copa e as Olimpíadas. Não sou contra Copa e Olimpíadas, muito pelo contrário. Mas não podemos perder as Ritas e os Joãos, as Ritinhas e os Joãozinhos que morrem desnecessariamente enquanto os recursos para o tratamento deles vão parar nos bolsos de uma porção de ladrões engravatados.
E eu volto a perguntar: Até quando?

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