Sempre me comovo com os bons pais. Não é à toa que Deus escolheu ser “O” Pai.
Por questões culturais e até físicas, a paternidade é uma escolha. Logo de cara, o homem escolhe acreditar e confiar na mulher que diz que o bebê é filho dele. Muitos decidem não acreditar. Muitos resolvem ir embora. Mas a imensa maioria confia e acredita. Depois que o bebê nasce, o pai escolhe participar dos primeiros momentos de vida, dos primeiros cuidados. Não há nele a descarga hormonal que leva a mulher a ter o instinto de cuidar daquela mini-pessoa. Em geral, em nossa cultura, o homem assume o papel de protetor do bebê e da mãe.
Não pretendo, aqui, fazer tratados sociológicos ou psicológicos. Isso é, apenas, o que vai em meu coração.
Mas o que me levou a pensar nisso tudo foi meu cunhado Joel. A forma como ele exerce sua função de pai me toca profundamente o coração.
Joel não conviveu com seu pai. Não teve uma figura que o ensinasse a ser bom pai. No entanto, ele tira do coração o ensinamento que a vida lhe negou.
No primeiro dia de vida do Marcos, eu estava com eles no hospital. Joel, com medo de pegar o bebê. Falei para ele:
– É mais fácil você cair e se machucar do que deixar esse bebê cair.
Com a mão imensa dele, quase do tamanho do Marcos, segurou o bebê e não largou mais. Fazem de tudo juntos. Marcos é um garoto intenso. Quando gosta de uma coisa, gosta mesmo. E vai por fases.
Houve a fase do avião. Pedia constantemente para ir ao aeroporto ver avião. Lá ia o Joel. Na fase do futebol, atual, Joel sai com ele à tarde, nos fins de semana, e encontra quadras de futsal pela cidade e os dois ficam jogando.
Há um paixão permanente na vida do Marcos: bateria. Lembro dele, ainda da altura da bateria, escondidinho acompanhando, sem piscar, enquanto o pai tocava na igreja.
O mais especial, porém, que tocou meu coração, foi um dia em que Marcos, Alice e Fernanda resolveram fazer uma apresentação musical depois do almoço de sábado. A música: Beat It, de Michael Jackson. (Aliás, uma das fases do Marcos é a fascinação pela obra de Michael Jackson.) Ensaiaram na sexta-feira à noite. Sábado, chegaram à casa da minha mãe. Joel carregava bateria do Marcos, que desmontara e colocara dentro de sacolas. Levava também a guitarra do filho, com a caixa de som. Eu já achei esforço suficiente. Mas, na hora do show, a surpresa maior – ele fazia parte da banda.
Marcos na bateria, Alice no vocal, Fernanda na expressão corporal e Joel na guitarra. O instrumento de brinquedo fazia contraste engraçado com o tamanho do Joel. O som esganiçado, e o Marcos dizendo que ele tocava errado.
Poucos pais iriam tão longe. Carregar a tralha toda já teria sido mais do que muitos fariam. Tocar guitarra de brinquedo numa banda de crianças, isso é que chamo de participar.
Sei que Joel vai colher os frutos que vem semeando. Marcos é apaixonado pelo pai. Finge não ser, mas é. Apesar de não ter tido o que copiar, meu cunhado criou um modelo próprio, muito melhor do que a maioria do que vemos por aí…
assino embaixo.