Traduzi um livro para pais. O autor sugeriu que os pais fizessem uma lista com o maior número de emoções humanas de que se lembrassem. Depois, escrevessem a primeira experiência de que lembravam, relacionada com cada emoção. A finalidade era contar aos filhos, mas eu achei que daria uma série de textos legais pro meu blog também.
É, são tantas emoções, como diz “ele”. Fiz uma lista… e senti vontade de escrever sobre a primeira vez em que me senti encantada.
Eu tinha oito anos. Até essa idade, meus pais só tinham dois filhos: eu e Henrique. Mamãe sofrera dois abortos, e eles queriam ter mais um bebê. Ela engravidou, mas foi uma gravidez difícil. Naquela época, as crianças não recebiam muitas informações, mas eu via uma enfermeira ir lá em casa aplicar injeção, havia sempre telefonemas para o médico. E houve uma coisa gostosa. Mamãe tinha que fazer exercícios leves. Então, todas as noites, papai chegava do banco, a gente jantava e depois descia para andar pela quadra. Não essa caminhada de hoje, em que a gente marca o tempo e a frequência cardíaca. Era um passeio. Não sei quanto tempo durava, mas era uma delícia.
Eu estava animada com o bebê. Sempre amei bebês, e teria um na minha casa! No fundo, sentia uma pontada de ciúme ao pensar em outra menina, mas era coisa passageira.
Certo dia, eu e Henrique fomos despachados para a casa da tia Sarah. Passamos o dia lá. À tarde, assistíamos Fury na televisão (Fury era um cavalo – era uma série) quando tio Bide me informou que eu agora tinha uma irmãzinha e que ele ia me levar para conhecê-la. E lá fomos nós. Tio Bide, tia Sarah e eu. No hospital, fomos ver a mamãe e depois papai nos levou ao berçário e pediu para a enfermeira mostrar a Cristina. Ela a pegou no bercinho e a segurou em pé. Biba, perdão, mas você estava muito feinha. Mais cabelo do que rosto, tinha umas manchas no rosto. E, assim que a enfermeira a levantou, a cabecinha caiu para a frente. UAU!!!!! Ali eu aprendi que os bebês não nascem bonitos.
Mas ela foi para casa. O bercinho era de madeira, com partes cor-de-rosa. Ela já foi para casa cor-de-rosa também. Eu queria pegar no colo, mas naquele tempo bebê ficava no berço. Ai de mim, como sofri!
Peguei uma cadeira e coloquei ao lado do berço. Encantamento total. Não conseguia sair dali. Ela se mexeu! Esfregou o narizinho! Bocejou! Abriu os olhinhos!
Sei que passei um dia inteiro ali. Quanto tempo fiquei, depois, não lembro. Mas não consigo esquecer o encantamento que senti ao ver aquela bebezinha tão linda.
Que milagre é esse que acontece? O bebê nasce feio pra caramba e, da segunda vez que a gente vê, ele já é a coisa mais linda do mundo? É o encantamento…
A bebê cresceu e continua a encantar!
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Eu e ela, no frio do verão de San Francisco. Ambas encantadas. |
Ri muito no "UAU!!!!! Ali eu aprendi que os bebês não nascem bonitos." Eu pensei a mesma coisa quando Gabriel nasceu e a diferença de idade é quase a mesma….Amo ler seu Blog, Claudia, Deus já usou muito suas publicações para me edificar… E divertir também!Beijo