RESMUNGAR, RECLAMAR? O QUE É ISSO?

Tenho que voltar a falar sobre meu pai e minha mãe.
Ontem à tarde, quando cheguei à casa deles, papai ainda estava com lágrimas no rosto. Zenaide tinha acabado de fazer uma limpeza nas feridas da boca dele. E tinha doído demais.
Preciso explicar as feridas. Na semana passada, terça-feira, ele passou por um procedimento médico simples, por causa de estreitamento no canal urinário. Tudo bem, foi para casa no mesmo dia, tomando antibiótico, como sempre acontece quando passamos por qualquer procedimento médico. O tal remédio provocou uma reação horrível na boca dele, que ficou cheia de feridas, como sapinho que dá em bebê. Como ele é grande, foi um sapão. A boca tomada de feridas que vão até o esôfago, segundo o médico. Dói demais. Para engolir é uma dificuldade. Precisa tomar muita água por causa do tal procedimento, mas quem diz que consegue? Está se sentindo mal, fraco, não quer se levantar.
Além disso, tem a dor de plantão, a mais grave, que, para ser solucionada requer a cirurgia para colocar uma prótese no quadril.
Papai começou a sofrer com a artrose há cerca de 30 anos. Não há mais remédio que o livre da dor, já que ele é extremamente sensível a medicações que contenham opiáceos. As noites são terríveis, e mamãe sofre com isso. Outro dia, ela conseguiu dormir de 11 da noite até 4:30 da manhã, e disse que nem acreditava, de tão bom que foi.
No meio desses 30 anos, ainda houve o câncer de próstata, que foi uma provação emocional imensa, mas, graças a Deus, totalmente curado.
Quando papai se movimenta, a gente escuta o barulho dos ossos batendo uns nos outros, porque a artrose, digamos assim, acabou com a cartilagem que os protege. O médico disse que o choque causa pequenas fraturas. Dá para imaginar o sofrimento desse Jó dos nossos dias?
Em 30 anos, eu vi meu pai chorar de dor. Eu o vi desanimado. Triste. Poucas vezes.
Nunca, nem uma vez, eu o vi reclamar, resmungar, murmurar, ou qualquer nome que se dê àquela coisa de ficar se queixando da própria sorte.
Mas eu o vejo constantemente alegre, conversando animado com amigos e parentes, recebendo a gente todo feliz na casa dele, comendo bem, viajando muito, participando de festas, sempre na igreja. Faz piada com tudo, até com suas próprias limitações.
Na sexta-feira, Joel chegou e, quando viu a boca do papai, fez uma cara de pavor e soltou, na lata:
– Nossa, seu Biléo, mas isso está horrível!!!!!!!!
Papai riu.
Sábado, com a boca tão inchada que mal conseguia falar, ele toda hora me perguntava se o Sérgio estava programando alguma viagem para nós quatro (eu, ele, mamãe e papai). Eu respondia que, primeiro, ele precisa resolver o problema do quadril, para viajar sem dor. Mas ele quer passear com dor mesmo.
Meus pais me ensinaram que nesta vida a gente passa por muita aflição, mas que a gente não precisa ficar reclamando. A gente pode seguir com alegria no meio da dor, seja ela física ou emocional.
Por causa do exemplo deles, quando eu consigo me livrar do casulo e sair de casa, sou capaz de rir, de me alegrar, de ver a beleza à minha volta.
Outro dia, na igreja, conversávamos sobre a dificuldade para vencer a murmuração diante de fatos que nos incomodam. Eu contei que não acho difícil, porque não aprendi a reclamar. Meus pais não me ensinaram. Diante das contrariedades, sempre que possível, a gente encontra um jeito de rir. Podemos chorar um pouco, mas, dificilmente reclamar. Aprendemos isso desde pequenos.
Deus está com todas as pessoas a cada passo do caminho. Ele não nos livra de sofrimento. Cabe a nós reconhecer isso, pedir forças a ele, e seguir, fazendo sempre o melhor que podemos.

Fazendo palhaçada em Foz do Iguaçu, em março deste ano, com MUITA dor no quadril… Ele é assim.
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