Eu ainda era criança quando comecei a sentir vontade de ter gêmeas. Ganhei duas bonequinhas, a Risinho e a Chorinho. Deus me deu duas de verdade, só que são duas Risinhos.
Serginho foi o bebê e a criança mais fácil de se cuidar que já pousou neste mundo (a única que disputa a colocação com ele é a Amanda). Com duas semanas já dormia praticamente a noite toda. De dia, dormia, acordava a cada três horas, mamava e dormia de novo. Apesar da incômoda depressão pós-parto, não tive dificuldade para cuidar dele, porque tinha experiência com minhas irmãs (Cristina nasceu quando eu tinha nove anos e Clarice, quando eu tinha 15). Ajudei bastante a cuidar delas, e só tive pânico dos primeiros banhos. Depois, foi tudo tranquilo.
Por causa da depressão pós-parto, em que eu chorava à noite, quando todos dormiam, para ninguém ver que eu era a mais desprezível das mulheres – em profunda tristeza enquanto Deus tinha me dado o bebê mais maravilhoso que uma pessoa poderia querer – eu não queria ter outros filhos. Mas…
É, deu positivo. Comecei a passar mal a valer. Vomitava tanto que cheguei a vomitar sangue. Tudo isso aconteceu na pré-história, então a gente só fazia ecografia quando tinha alguma coisa fora do normal. Na minha consulta do quarto mês de gestação, o médico mediu o útero e falou que estava do tamanho de cinco meses. Como Serginho não tinha sido um bebê grande, ele pediu uma ecografia. Marquei.
Sérgio tinha uma reunião na hora do exame, então fui sozinha. O médico me mostrou tudo: coração, perninha, bracinho. Não vi nada (para os amantes de Friends: igual à Rachel na primeira ecografia). Ele estava animado, e, de repente, ficou quieto e continuou a mexer aquele negócio na minha barriga. Perguntou:
– Você veio sozinha?
Pensa numa pessoa apavorada. Isso, fui eu. Respondi que sim, e ele continuou a passar o aparelho na barriga, muito sério. Quando eu fico nervosa, preciso fazer uma piadinha para desanuviar, e perguntei:
– Não dá para você achar outro bebê atrás daquele que você me mostrou?
– Por que você está perguntando isso?
– Porque sou doida para ter gêmeas.
– Tem dois aqui. Eu estava pensando como eu ia te falar, para você não levar um susto.
Eu achei que ele estava brincando. Saí de lá radiante. Como era na pré-história, precisei chegar na casa da minha sogra para ligar para o Sérgio. Ele, sim, levou um susto. Eu nunca tinha contado pra ele a minha vontade de ter duas filhas ao mesmo tempo.
Daquele dia em diante, minha fixação por coisas pares aumentou bastante. Mas o engraçado foi depois que nasceram. Elas foram para a incubadora. No dia em que saíram, a enfermeira as levou até o quarto, para nos visitarem. Falei que queria que ela furasse as orelhinhas e pusesse os brincos. Sérgio perguntou quanto seria. Ela disse 10 dinheiros (sei lá qual era a moeda daquele tempo). Levou as meninas e os brincos e voltou pouco depois com elas muito lindinhas e chiques. Sérgio pegou os 10 dinheiros e entregou, mas a moça protestou:
– São 20.
– Ué, mas você falou 10.
– É, mas são duas! 10 para cada uma.
Mas são duas! Essas palavras nos acompanham até hoje. De vez em quando acontece de fazermos alguma coisa e alguém repetir: mas são duas!
Duas alegrias. Duas bênçãos sem tamanho. Duas “mulheres” que nos enchem de orgulho. Duas companheiras das horas alegres e tristes. Duas peças a completarem nossa família que, se dependesse de mim, só teria três peças. Duas fontes de riso.
Hoje, aniversário delas, eu olho para trás e lembro de como foi divertido ver as duas crescerem. Elas eram muito levadas, e tenho que confessar que mais ri do que fiquei brava com as maluquices delas. Tinha que dar as broncas, mas, muitas vezes, saí da bronca e fui rir escondida.
Elas se transformaram em adultas que alegram profundamente nosso coração. Não trazem aborrecimento, nem preocupação. Sinto-me honrada por Deus ter me escolhido para cuidar delas aqui neste mundo. O tesouro era valioso demais, e, mesmo assim, ele achou que eu daria conta. E, pelo menos, consegui não estragar o que ele colocou nas minhas mãos.
Flá e Dani, Flá e Leca, Maricota e Joaninha, Vavá e Nielinha, Florzinhas, vocês são uma imensa alegria na minha vida, na do pai e na do Sér. Vocês nos enriquecem a cada dia, nos animam, nos dão força, nos completam.
Que Deus continue sendo o melhor amigo de vocês todos os dias, e que vocês sejam sempre extremamente felizes.
Mil beijos.
Fiquei muito emocionada com essa justíssima declaração de amor!!!Felicidades a elas e a toda a família!!!Natalie
Oi Claudia, vim aqui te agradecer pelas palavras de encorajamento. A caminhada é longa e confesso que tem dias que me falta energia. Não sei como eu passaria por essa prova sem Nosso Pai, ainda tenho muito o que aprender, e minha oração é pra que eu veja cada vez mais a graça e a glória de Deus sobre a vida do meu filho! bjs