Nada melhor para uma blogueira do que receber comentários amáveis. Pensando bem, tem algo melhor sim: o comentário sugerir o post para o dia seguinte. Atingir a perfeição tinha que ser obra do Sérgio Gonçalves (todos os Sérgios são especiais). Além de elogiar o que publiquei ontem, sugeriu que eu relembrasse uma fase muito marcante de nossa igreja, o que faço com muito prazer. Transcrevo a mensagem dele (o pedido, já que o elogio a falsa modéstia me impede de apresentar):
Por favor, escreva alguma coisa sobre os encontros de jovens casais (alguns nem tão jovens assim) que tínhamos na IMAS por volta dos anos 80 e que durou um bom tempo. Cada encontro acontecia na casa de um casal. Tinha louvor, uma palavra inspirada e depois a confraternização, além de um bom lanche. Me lembro muito bem do Rev. Garrison (e D. Nancy, é claro) dirigindo a meditação em alguns encontros e a reunião na casa deles no Guará foi inesquecível. Cada questão complicada e como ele se saía bem nas respostas! Esse grupo foi marcante para mim e me ajudou muitíssimo na integração com as pessoas da igreja, já que eu era mais novo na família da fé e logo fiz vários amigos. Espero o texto de presente, certo?
Um abraço!
Sérgio Gonçalves
Durante muito tempo, as igrejas metodistas funcionavam com organograma bem específico. Sociedades de Crianças, Juvenis e Jovens. O casamento, em geral, acontecia aos sábados. Depois, lua de mel. No primeiro domingo na igreja, ao voltar da viagem, as moça ia para a Sociedade de Mulheres e o rapaz, para a de Homens. Havia comissões para cuidarem de todo o trabalho: administração, ensino e evangelização, principalmente. Poucas pessoas participavam desses grupos, que formavam a equipe de liderança.
O mundo mudou. Reviravolta completa. Mulheres a trabalhar o dia inteiro, a ter mil atividades fora de casa. A jovem não mais se tornava “senhora” automaticamente ao se casar. E o antigo modelo da igreja não funcionava mais. Nos poucos momentos de liberdade, mulheres e homens queriam atividades conjuntas, especialmente na igreja, o ponto em torno do qual queriam construir a vida e criar os filhos.
No final da década de 70 e durante os anos 80, como o Sérgio contou, nos casamos, deixamos a convivência da mocidade, mas não nos enquadrávamos nos grupos à nossa disposição na igreja. Reverendo Garrison e dona Nancy se dispuseram a suprir nossa carência. Assim surgiu o grupo dos Novos Casais. Que, como Sérgio também comentou, era composto inclusive por alguns que eram novos há muitos anos.
Além de inventar um tipo de grupo que não existia antes, do qual tanto maridos quanto esposas participavam, reverendo Garrisson trouxe uma verdadeira revolução: podíamos falar de qualquer assunto. Ele nos ensinou que psicologia não é antibíblica. Permitiu que perguntas “cabeludas” fossem feitas, relacionadas a qualquer área da vida – física, emocional, espiritual, social. Nenhum assunto era vetado. Além disso, nos mostrou que era possível ler e estudar livros além da Bíblia e dos escritos por autores evangélicos. A mim, pessoalmente, ensinou que posso pegar qualquer obra e fazer o que Paulo recomendava tanto: examinar as coisas, descartar o que não serve e reter o que é bom.
Às vezes, as reuniões eram vistas com reservas, exatamente por causa dessa mentalidade aberta. Reverendo Garrison, o pregador da Graça, sabia – e nos ensinou – que podemos expressar o que está no fundo do coração, que Deus já sabe que está lá e não vai castigar ninguém por ser sincero e que, pela Graça, ele nos transforma pouco a pouco, até sermos como ele quer que sejamos.
Essa postura revolucionária dentro da igreja fez um bem enorme a nós, que começávamos uma família em meio a mudanças sociais imensas na vida secular. Ver que éramos compreendidos, que nosso pastor entendia nossa luta, que estava pronto a sair de seu conforto para “andar mais uma milha” conosco nos cativou ainda mais. Nos “prendeu” em nossa comunidade de fé.
Não era raro um casal se desentender durante as reuniões. Cada um pensava de um jeito. Sim, as reuniões envolviam conflitos. Muitas vezes, reverendo Garrison contava que havia discutido com a esposa ao comentar com ela sobre o tema que havia estudado para aquela reunião. (Comentário à parte: aprendi, também com ele, a importância de estudarmos todos os assuntos que nos vierem à mão, que, de alguma forma, se tornarem importantes em minha vida.) Com isso, víamos que era possível discordar e viver em amor.
Sérgio fala, em seu pedido, que fez amigos no grupo. Era inevitável. O tema maior do grupo de Jovens Casais era AMOR. Sempre. Como viver em amor. Como demonstrar amor. Como saber receber amor. Como amar os filhos. Como amar os amigos. Na verdade, graça e amor eram os temas da vida do reverendo Garrison.
Sérgio, você me pediu um texto de presente. Peço sua permissão para tornar seu presente uma homenagem ao nosso amado reverendo Garrison e sua esposa. Conhecendo bem você (afinal, fomos Jovens Casais…), sei que vai me apoiar quando digo que sinto uma saudade imensa do nosso pastor da graça e do amor, de sua esposa, de seus filhos. Grande privilégio ter recebido tantos ensinamentos dele!
Cláudia, só você mesmo para colocar em palavras aqueles tempos maravilhosos que vivemos junto com Rev. Garrison, D. Nancy e filhos. Parabéns!!
Excelente idéia do Sérgio. Parabéns também.
Beijos,
Dette
Muito grata, amiga!