Eu sei que ele merece. E olha que sou a pessoa mais indicada para fazer tal avaliação. Vivo com ele há quase 33 anos, e afirmo, com toda certeza, que ele merece.
Merecimento é uma questão subjetiva. Muitos afirmam que as pessoas não recebem o que merecem. Até concordo. Tem muita gente safada vivendo aparentemente bem, e muita gente boa comendo o pão que o diabo amassou. Mas eu gosto de olhar a vida de uma perspectiva mais ampla, e acredito que o safado, no fundo, não tem a vida boa que gosta de exibir e o correto, quando está só com ele mesmo, pode se olhar por inteiro no espelho.
Tudo isso vem à minha mente por causa de uma viagem que Sérgio vai fazer amanhã. Alguns homens, motos, um final de semana. Ele merece. Sei que vão ser dias divertidos. E ele merece se divertir.
Aliás, ele merece ter todos os desejos do coração dele atendidos. Como já falei, vivo com ele há 33 anos. Não conheço pessoa mais íntegra. Não conheço ninguém que coloque os outros acima dele mesmo tanto quanto meu marido.
Houve um tempo em que eu não sabia disso. Tudo que ele comprava aqui para casa, comprava quatro. Mesa e quatro cadeiras. Quatro copos diferentes. Quatro pratos. E eu, cada vez mais irritada, repetia: “Mas nós somos CINCO!!!!!!!!!!!”. Ele não dizia nada. Eu ficava pensando se ele esquecia de mim ou do Serginho, já que, para esquecer a Flávia e a Daniela, ele esqueceria duas. Teria que comprar três coisas de cada, não quatro. Um dia, depois de eu resmungar mais uma vez, como aquelas mulheres insuportáveis, ele falou baixinho: “Eu sempre esqueço de ME contar”. Quase morri de vergonha e, daquele dia em diante, passei a olhar para ele com outros olhos. Ali estava um homem capaz de dar a vida por nós. Esquecia dele mesmo por nós.
Além disso, ele é capaz de engolir sapos e sapões, para manter a paz. Para mim, fala: “Sou um otário, sou um idiota”. (Escrevi sobre isso em outro post, CANTATA DE NATAL E O PORQUINHO OTÁRIO – https://claudiazillerfaria.com/2011/12/23/cantata-de-natal-e-o-porquinho-otario/) Mas deixa outras pessoas se darem bem em cima dele, porque, para ele, há coisas muito mais importantes do que se dar bem em uma situação específica, ganhar um pouco de dinheiro a mais, por exemplo. De otário e idiota não tem nada – a vida de sucesso não se mede por quantas vezes você se deu bem prejudicando os outros, mas, sim, no conceito e respeito que sua família e seus amigos têm sobre você.
Nem em meio à doença, e depois, à quimioterapia, ele abandonou os valores de defesa da família, integridade, trabalho duro, cuidado com o próximo. Por isso, cresce todos os dias aos olhos daqueles de quem vale a pena a gente receber respeito – os que são como ele. Os outros, com o perdão da expressão dura, que se danem. (Eu não sou como ele…)
Por isso eu digo e repito: ele merece. O fim de semana que escolheu e planejou. As atividades que gosta de fazer. Merece alegria, paz, conforto, saúde, dinheiro, amor, amizade, elogios e tudo mais de bom que há na face da Terra. E tem recebido, felizmente.