Terno, com gravata ainda por cima, jamais deveria ter sido adotado como vestimenta formal dos homens brasileiros. Aqui faz calor e os coitados encapotados fazendo sauna o dia inteiro. Quando o terno é bonito, e eles se arrumam para festas, aí, sim, concordo que ficam lindésimos, charmosos.
Os ternos, ainda mais com gravata, se tornaram marca de importância, de poder. Não sei se ainda é assim, porém me recordo com clareza da admiração que senti ao ver na televisão a alta cúpula do governo de Israel em uma reunião – todos usando camisa social, sem paletó. Como isso aconteceu no tempo em que amarrávamos cachorro com linguiça, não sei se o costume persiste. Espero que sim.
No Brasil, o terno é marca da posição que o homem ocupa na escala social e política. Até certo ponto, pode usar camisa no trabalho. Depois, só terno. Há alguns que tomam a roupa como sua marca de importância e poder. Exemplo máximo eu vi ontem e ante-ontem em um de meus principais desafetos, Eduardo Cunha.
Penso que ele dorme de paletó e gravata para Cláudia Cruz não se esquecer de que ele detém todo o poder do céu e da terra. Aqueles olhos arregalados dela são por isso: vive em êxtase de pensar que é casada com o ser mais próximo de um deus que se pode imaginar. Pelo menos isso é, segundo minha opinião, o que Eduardo Cunha pensa sobre ele mesmo.
Por que estou tomando meu tempo escrevendo (de novo – escrevi Chapeuzinho e o Lobo) sobre ele? Sei lá, meus posts nascem na minha cabeça à noite, e este nasceu, então vamos lá. O que mais chamou minha atenção na prisão do meliante foi sua roupa. É, a roupa. A notícia foi que o prenderam em casa. Então, ele foi ao seu closet (que já deveria ter sido desocupado há muito tempo, mas ainda está com ele – só mais uma regrazinha à toa que ele desrespeita), pegou um terno, uma camisa impecavelmente passada, uma gravata comprada com dinheiro do trust que não é dele em alguma Hermès da vida, aprontou-se todo e foi pro xilindró.
Fala sério, ir pra cadeia de paletó e gravata? Assistimos, nos últimos tempos, a prisão de muitos ex-poderosos e nenhum deles se preocupou de tal forma com a imagem. O recado para mim e para você é claro: “Continuo poderoso, continuo o manda-chuva, estou entrando no avião da Polícia Federal, mas continuo no comando – sem algemas e de terno e gravata”.
Bem, chegou a Curitiba, passou por todo o procedimento e foi para a cela. No dia seguinte, saiu para fazer o exame de corpo de delito. Com que roupitcha? Ah, sim, o paletó! Gente, o homem é obcecado! Uma noite só na cadeia e já dava para notar umas diferenças: sem gravata e camisa toda amassada. Imagina o sofrimento dele, coitado, aparecer em público de camisa amassada. Bem feito, se tivesse ido de camiseta ela não estaria naquelas condições. O paletó, porém, ainda estava lá. No dia em que ele aparecer sem o dito cujo, aí poderemos dizer que ele começou a entender que o tempo dele acabou.
Hoje, de óculos escuros, para não mostrar os olhos ainda mais arregalados do que de costume, a esposa foi visitá-lo. De terninho preto. Tive que rir. A foto que vi foi tirada na lateral, então não deu para enxergar, mas acho que ela estava de gravata, para consolar o coitadinho.
Me desculpem o tom tão irônico deste post. O desejo de meu coração é que todos os perversos se arrependam, se voltem para Deus e endireitem seus caminhos. Tudo que sei de Eduardo Cunha, desde muito antes de ele se tornar “O” Eduardo Cunha, mostra que, até agora, ele se recusou a tomar essa atitude. Tem maldade no coração. É mau. De verdade. Tem a cara de pau de subir ao púlpito de igrejas e pregar sobre a Bíblia que os atos dele desrespeitam a torto de direito. Dizem que os sermões são maravilhosos. Devem ser, ele fala bem, é inteligentíssimo. Também é violento. Soberbo. Orgulhoso. Ardiloso. Rancoroso. Não descobri isso nas notícias políticas. Na verdade, foi na história de um homem cujo nome eu desconhecia e que só há poucos meses vim a saber que era ele. Quando descobri, falei, estarrecida: “Gente, mas então esse cara é muito pior do que eu pensava!”. Mas o paletó e a gravata, ah, esses são da melhor qualidade, e, pelo menos na cabeça dele, o tornam o homem mais precioso da face da terra.
Gosto das falas do Magno Malta. Mistura textos bíblicos com humor, com músicas, com sabedoria popular. E não me esqueço um de seus discursos em que começou citando Salomão, dizendo que estávamos vendo a verdade contida no provérbio que diz: “A soberba precede a queda”. É, acho que ainda vou ver o Cunha de camiseta… talvez até de sandália havaiana. Isso seria o máximo!
Até esse dia chegar, eu oro por ele. De verdade. Peço que ele entenda a mensagem que insiste em pregar. Que volte o coração para o Deus que ele sempre invocava nas sessões da Câmara. Creio num Deus que perdoa, que “refaz” a pessoa que se arrepende. Espero que isso aconteça com o Cunha e com os muitos outros poderosos que andam fazendo barbaridades por aí.
Se você quiser saber o que Deus pode fazer na vida de uma pessoa assim, pesquise na internet sobre Charles Colson, também conhecido como Chuck Colson. Um dos envolvidos no escândalo Watergate, também foi para a cadeia, mas saiu de lá completamente diferente do que entrou. Não vou contar a história para não estragar a surpresa. Vale a pena. Deus permita que entre os presos atuais no Brasil existam vários Chucks Colson.