Ando muito séria nos últimos tempos. Tem coisa demais na minha linda cabecinha. Mas, hoje, vou desanuviar um pouco, lembrar uma história divertida.
Conheci neve ao vivo em dezembro de 1988. De lá para cá, nos encontramos algumas vezes, e posso afirmar, categoricamente, que gosto muito de neve: na foto, no filme, no cartão de Natal ou vista da janela do quarto do hotel (bem aquecidinho). Aquela coisa branca gelada não faz meu gênero. Primeiro, é gelada. Não gosto de frio. Depois, os filmes só mostram a parte boa: aquela coisinha branca caindo de leva, cobrindo tudo de branco. Nunca tinha visto que, no chão, ela forma uma lama suja, congelada, horrorosa, que gruda nos carros, nos sapatos, nas roupas das crianças. E leva meses para sair, já que só descongela na primavera. Enfim, não gostei, não gosto. Que me perdoem os românticos que acham que todos devem amar a neve.
Por favor, entendam-me bem. Se aparecer uma viagem para um lugar nevado, eu vou, cheia de amor pra dar. Empolgadíssima. Mas, prefiro ir no verão.
Esse meu primeiro contato com a neve foi maravilhoso. Era uma viagem de sonho. Toda a família, pais, irmãos, marido e filhos. Todos em uma van, perambulando pela Califórnia e adjacências. Nos divertimos a valer. Meus irmãos, Sérgio e Serginho foram esquiar, mas eu fiquei em uma casa quentinha em Lake Tahoe. Ou então no hotel. Nada de frio. Calor e brincadeiras com minhas filhas, sempre divertidíssimas.
Estávamos indo de não sem onde para algum lugar, e vimos uma encosta nevada, cheia de gente brincando. Tínhamos levado dois discos de plástico para escorregar, já tínhamos nos esbaldado em Yosemite, e, vendo aquele monte de gente, Henrique parou a van e lá fomos nós.
O coitado do Henrique passou o tempo todo puxando Flávia e Daniela num trenozinho (elas não aceitavam mais ninguém, só ele). Os outros todos pegaram os discos, e uns tapetinhos de plástico e começaram a subir e escorregar ladeira abaixo. Eu, só olhei.
A partir daqui, a descrição da foto será necessária. Eu sou uma pessoa toda de azul, estática, segurando um negócio alaranjado. Fica claro que me sentia totalmente desconfortável? Bem, mas eu observava o topo da “colina”. Dá para ver uma confusão branca lá em cima? Pois é, ali está a Cristina, com seu disquinho. E, grudado nela, um japonês desconhecido. Ele veio mais rápido, atropelou a coitadinha e os dois desceram toda a encosta enrolados.
Há uma outra foto, em que eu apareço dobrada, de tanto rir. E logo a Cristina, a mais tímida de todos, foi se engarranchar com o japonês. Quando, por fim, os discos dos dois pararam, eles estavam abraçados, o menino (era um adolescente) com as mãos na cintura da Cristina.
Pensa em duas pessoas sem graça. E pensa em uma família em volta rindo de tudo (a nossa, a do japonês eu não vi). O menino se levantou mais rapidamente do que o “The Flash”, e se afastou, curvando a cabeça daquele jeito que os orientais costumam fazer, falando umas coisas que, suponho eu, tenha sido “me desculpe”.
Tudo acabou bem. Joel, que tinha ficado no Brasil, aceitou bem a situação, foi compreensivo. Ouvi dizer que o japonês morreu de tanta paixão, jamais esqueceu aquela escorregada com uma linda brasileira. E nós… continuamos rindo da história até hoje!