15) MINISTÉRIO DO REFRI

Ontem, no post Futebol, (https://claudiazillerfaria.com/2012/04/19/14-futebol/), contei que as mulheres levavam Quissuco e guloseimas para o lanche das tardes de sábado. Quando elas deixaram de levar, seu Osvaldo teve uma ideia brilhante: passou a vender Coca-Cola geladinha! Era uma forma de suprir uma necessidade e, ao mesmo tempo, fazer uma graninha a mais.

O pessoal saía do campo e caía matando nas Cocas do seu Osvaldo. Só um probleminha: poucos levavam dinheiro. Então, ele começou a anotar as “dívidas” num caderno. Escrevia o nome do dito cujo e ia colocando um monte de tracinhos:

Sérgio – ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||

Conseguiu contar? Nem ele conseguia. E o dono da dívida não tinha paciência para contar, então seu Osvaldo inventava um número e era isso. Ele sempre dizia menos tracinhos do que tinha na verdade.

A coisa piorou quando nossos filhos chegaram à idade da autonomia “refrigerantal”. Não podiam ver seu Osvaldo que iam pedir refri. E lá iam tracinhos para a conta. Ou as crianças faziam tanta confusão que ele desistia de colocar tracinhos no caderno. De vez em quando, os pais passavam por lá e “acertavam a conta”. Claro que a maioria pagava mais do que a dívida anotada, já sabendo que faltavam muitos traços ali.

A Coca-Cola do seu Osvaldo virou mais um ponto de geração de comunhão em nossa igreja. A gente ia lá na sala ao lado da casa dele, onde ficava o freezer com o refri. Enquanto bebíamos a Coca estupidamente gelada, batíamos papo, ríamos, fazíamos confidências.

Sou cocacólatra há muitos anos. Acabava a Escola Dominical e seu Osvaldo me dizia:

– Essa semana eu lembrei!

– Oba, vamos lá!

É que eu só tomava Coca Light, e ele, sempre magro, esquecia de comprar. Pouca gente tomava light naquele tempo, de modo que não havia muita procura. Mas, quando lembrava, ele comprava para mim. E lá íamos, eu e ele. Pegava a minha, ele a dele, e sentávamos para conversar enquanto bebíamos o refri. Às vezes, risadas. Muitas vezes, ele me falava de sua experiência de vida, de suas opiniões, de seu posicionamento espiritual. Aprendi muito ali com aquele doutor em vida, enquanto tomava Coca Light.

Não creio que seu Osvaldo tenha tido qualquer benefício financeiro palpável de sua venda de Coca-Cola, que durou muitos anos. Nós, que tivemos o privilégio de consumir os refrigerantes, recebemos inúmeros benefícios. Um dia, o Henrique definiu com precisão:

– Seu Osvaldo, sua venda de Coca-Cola não é um negócio. É um ministério.

E, mais uma vez: Que saudade!!!!!!!!!

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