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Essa foto é um presentinho para o Toy. Tirada na viagem em questão. |
Flávia e Daniela completaram 3 anos no dia 26 de agosto de ***. Na época, Henrique morava em Niterói, e veio para a festa. Chegou lá em casa com um mapa rodoviário dos Estados Unidos e um monte de papéis na mão. Nada informou e nada lhe foi perguntado. Depois que todos os convidados foram embora, reuniu papai, mamãe, filhos, genro (na época era só o Sérgio) e netos (só Serginho, Flávia e Daniela…) na sala. E informou o que era a papelada. Planejamento detalhado de uma viagem aos Estados Unidos. São Francisco, Los Angeles, Yosemite, Las Vegas, Sequoia Park, Red Valley, Grand Canyon, Lake Tahoe. Depois, o básico: Miami e Orlando. Ah, em dezembro do mesmo ano. A parte do descrédito total, da falta de dinheiro, do dinheiro que caiu do céu para a gente ir eu conto em outra oportunidade. As crianças ficaram empolgadíssimas. Serginho tinha quase 8 anos, e, muito esperto, entendia o tamanho da aventura. As meninas iam pouco além do Mickey, mas isso foi suficiente para se empolgarem e logo batizerem o país estrangeiro de o Zunidos. Muito mais fácil. “Nós vamos para o Zunidos.” Ficou assim até hoje.
Logo comecei a mostrar fotos, assistir filmes, para eles terem noção do que veriam. Aí vai uma dica de uma viajante, hoje bem experiente: estudar – isso mesmo, estudar – o lugar para onde a gente vai prolonga o prazer da viagem e ajuda a aproveitar muito mais enquanto estamos lá. Não sei quantos dias depois de dada a largada do planejamento, Dani perguntou:
– Mãe, a gente vai de avião? Grande?
– É, filha.
Ela não perguntou mais nada, achei que estava tudo bem. Dias depois, ela vem:
– Mãe, eu já viajei de trem?
– Não.
– Então posso ir para o Zunidos de trem?
Expliquei que era impossível, mostrei no mapa a distância, comparando com a de Brasília a Curitiba. Se até Curitiba a gente levava dois dias de carro, não dava para ir de trem aquela distância toda. Mais algum tempo e:
– Mãe, avião pequeno vai pro Zunidos?
– Alguns vão, filha, mas a viagem é melhor em avião grande.
Bem, a essa altura eu (lerdiiiiiiinha) percebi que ela estava com medo do avião. Na verdade, quando comecei a conversar sobre isso, vi que ela estava apavorada.
– Se o tio Henrique não for pro Zunidos eu posso ir pra “Interói” e ficar com ele?
– Posso ir de navio?
A coitadinha tentava encontrar qualquer tipo de solução para não viajar no avião grande. Toda vez que eu via um decolando, mostrava para ela, e tentava animar:
– Olha, filha! Tão lindo!
E ficávamos observando o avião até sumir nas nuvens. E ela repetia que não queria ir ao Zunidos.
Resolvi buscar ajuda mais capacitada. A psicóloga da escola. Me deu dicas excelentes. Me lembro de duas especiais. Ir de carro até o Eixo Monumental, depois da Praça do Buriti, onde não há prédios altos. Falar para as crianças olharem pela janela, e dizer que no avião é assim, que vemos só o céu e as nuvens. Não adiantou.
A segunda dica era levar a Dani para ver um avião por dentro. Conversei com minha amiga Solete, que trabalhava no aeroporto, e marcamos a visita. Lá fui eu com os três. Quando estacionei o carro, Flávia perguntou, de um jeito que era muito característico das duas, arrastando bem a última palavra:
– A gente já chegou no Zuniiiiiiiiiiiiiiiiiiiiidos?
Achei que, sendo esse o nível de compreensão, a visita não ia adiantar muito. E não adiantou mesmo. Até lanchinho eles ganharam no avião, sentaram afivelaram os cintos, se divertiram, riram. Dani bem relaxada, sem demonstrar qualquer preocupação. Ao sair, perguntei:
– E aí, vamos de avião?
– Eu queria ir de trem.
Eu tinha entendido tudo errado. Achei que o problema era o avião, era voar. Mas não era. Senti muita pena da minha filhinha, mas não ia cancelar a viagem por causa disso. Era um incômodo, ela teria que superar. Papai tem medo de avião e viaja assim mesmo.
Chegou o dia. Todos animados, inclusive a Dani. Ao entrar no avião, porém, ela estava com muito medo. Até os lábios estavam sem cor. Sentei perto dela, segurei a mãozinha fria. Coitadinha da minha filha! O avião decolou. Nem vendo tudo tranquilo ela relaxou. Fui mostrando a vista para ela na janela. Quando chegamos à altura das nuvens, ela perguntou, bem alto:
– É agora que a gente vai ficar pequeniniiiiiiiiiiiiiiiiiiiinha?
Comecei a rir e expliquei que a gente não encolhe no avião. E ela:
– Mas quando ele sobe vai ficando pequenininho.
O medo dela não era do avião, não era de voar, ela temia o processo de encolhimento pelo qual passam o avião e as pessoas que ele leva no momento da decolagem. Os aviões seriam, assim, uma máquina de encolher pessoas. E depois, para onde as pessoas encolhidas iam? Como voltar ao tamanho normal? Como nunca imaginei esse tipo de medo, nunca falei nos aviões que pousam, só mostrava os que decolavam e ficavam pequenos no horizonte.
Depois que ela percebeu que não ia encolher, passou a amar aviões. Acho que, hoje, tem mais horas de voo do que a maioria dos comissários e pilotos.
Ah, mães, essas tapadas!!!!!!!!
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Depois de meses de pavor, diversão em Lake Tahoe!!!! |
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Medo, só na primeira decolagem. Catedral de Cristal, em Los Angeles. |
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